sábado, 6 de agosto de 2011

O estadio do corinthians e a torre de babel


 



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       Muito tenho ouvido e lido sobre a construção do estádio do Corinthians, o “Itaquerão”, para a Copa do Mundo. A última notícia que li (Folha de São Paulo, 22/07/2011) foi que o estádio irá custar mais 935 milhões de reais; e dizem que essa cifra vai aumentar. 
       E quem paga essa conta? Pelo menos metade sai dos bolsos do contribuinte via prefeitura de São Paulo. Absurdo? Sim, mas nada novo.
       A política do pão e circo, implementada no império romano pelos césares, era uma prática para controlar a população pobre insatisfeita. Durante as lutas de gladiadores, jogava-se pão para o auditório, numa cerimônia sanguinolenta regada a alimento, saciando os sentimentos de desagrado para com os governantes.
       O reaproveitamento dessa prática antiga parece que tem dado certo no Brasil, mesmo em épocas tenebrosas. Em 1950, por exemplo, foi realizada a Copa do Mundo no Brasil. Esta era uma época de grande carestia, com várias greves e diversos problemas sociais. Mas aí veio a copa e varreu tudo pra baixo do tapete e o povo esqueceu seus problemas. Povo feliz esse brasileiro...
       É no mínimo curioso que os locais de prática do futebol carreguem o nome de estádios e tenham muito em comum com a arquitetura dos estádios romanos onde era praticada a política do pão e circo. E não só a arquitetura que é semelhante, a prática parece continuar a mesma.
       Chego no porque vejo uma relação do estádio do Corinthians com a torre de Babel. Assim como a torre de Babel, o estádio brasileiro é um exemplo da autopromoção humana. Sempre quando lemos a história de Babel tendemos a focar nas pessoas começando a falar em línguas diferentes e a ficarem confusas. Mas o que realmente importa naquela história é a demonstração da vontade dos homens de deixarem sua marca, de construírem um nome pra si.
       Pra quem quiser conferia, a narrativa encontra-se em Genesis 11:1-9.
       Contextualmente, a Babilônia (Babel) foi precursora da nossa cultura do materialismo. Ela era famosa por sua riqueza, por seus jardins suspensos e torres altas.  A Babilônia possuía cinco torres, chamados zigurates, cuja função era adorar Marduk, o deus patrono local. Segundo a cosmologia da época, a altura era identificada com céu, e as montanhas lugares sagrados. Os zigurates eram montanhas feitas pelo homem, simbolicamente ligando o céu e a terra.
       Em Genesis 11:3 lemos: “E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal.”
       Sem o avanço tecnológico da invenção dos tijolos as torres não teriam sido possíveis. Construir torres de vários andares como os zigurates da Babilônia exigia a inovação de cozer os tijolos no forno para torná-los muito mais duros. Com o acréscimo do betume disponível na região, usado como argamassa, nasceram as colossais estruturas arquitetônicas.
       Deus ficou evidentemente triste com o fato de que esse projeto de construção que o povo de Babel usava para se auto-promover, distorcia seus valores. Os homens de Babel ultrapassaram os limites humanos ao tentarem alcançar os céus construindo “uma torre cujo cume toque os céus”. Deus tinha de intervir para lembrá-los que os empreendimentos humanos deveriam estar enraizados na terra e servir o povo que ali vivia. Que bela lição para nossos governantes nos dias hoje!
       Embora os babilônicos vissem o zigurate como um cordão umbilical que ligava o homem ao céu – o assim chamado axis mundi, ou “umbigo da terra” – essa história nos lembra de que nos ligamos a Deus por meio de boas obras e não por meio de tijolo e argamassa.
reconstrução artística de um zigurate mesopotâmico

       Os construtores da torre de Babel conseguiram “subjugar a natureza”, transformando um tijolo mole em tijolo duro por meio do cozimento. Com esse avanço tecnológico simples, porém, veio o sobrepujante orgulho de suas próprias criações – o início da idolatria. A arquitetura se tornou objeto de adoração, em vez de ferramenta para servir às necessidades humanas.
       Que fique bem claro: a arquitetura e a tecnologia não são inerentemente nem boas nem más. Podemos aplicar nossa engenhosidade humana para fins construtivos ou destrutivos, conforme nossa escolha. Podemos construir abrigos para os desabrigados ou monumentos para o nosso ego – “para fazer um nome para nós mesmos”. 
       Se pensarmos em um custo de uma casa simples no Brasil, no valor de R$100.000, o que é bem razoável, com o valor do estádio do Corinthians daria para construir 9.350 casas na região de Itaquera. Acho que seria bem mais proveitoso para a população, não seria?
       Enquanto nossos governantes tiverem como seu objetivo principal a autopromoção e nós aceitarmos tudo calados, felizes com o pão e o circo que nos são dados, estaremos adorando o deus errado e à caminho da perdição; espiritual e humana.
        É. Dá o que pensar...

4 comentários:

  1. BAMBIS, FALA UM POUCO SOBRE A HISTÓRIA DO MORUMBI QUE FOI CONSTRUÍDO COM 70% DE DINHEIRO PÚBLICO, SEM INCENTIVO FISCAL, FOI NA CARUDA MESMO.
    O CORINTHIANS ESTÁ TRAZENDO DESENVOLVIMENTO PARA A ZONA LESTE DE SÃO PAULO, ZONA ESTÁ QUE É PRECONCEITUALIZADA PELOS ENGOMADINHOS DA ZONA SUL QUE SE ACHAM OS PODEROSOS.
    PODEROSO É O POVO DA ZONA LESTE QUE CONTA COM 45% DA POPULAÇÃO DA CAPITAL PAULISTA E FEZ A DIFERENÇA NA VOTAÇÃO DOS INCENTIVOS.
    TUDO FEITO USANDO A DEMOCRACIA, DIFERENTE DE VCS INVEJOSAS DO MORUMBI QUE METERAM A MÃO NO DINHEIRO DO POVO!

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  2. Luiz Borges: desculpe, mas não sou sãopaulino, nem de São Paulo eu soi. Na verdade, para efeitos deste blog, não torço pra time de futebol algum. Se você tivesse tido tempo de ler o post inteiro, ou dado uma olhada no blog, veria que ele não se trata de um lugar pra discutir futebol. Mas acho que você não tem esse tempo...
    Não me importa se é o estádio do corinthians, do palmeiras, ou do XV de Piracicaba. Senhor "Zona Leste de São Paulo (ZLSP)", o que me interessa é o que nós, enquanto Filhos de Deus, fazemos com a capacidade nós é dada. Se preferimos construir templos de auto-promoção humana, Deus nos deu o livre-arbítrio para tal. Mas acho que não é isso que ficará para a eternidade.
    Gálatas cap. 5, versículo 26: "Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros."
    Paz

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  3. achei legal a parte do umbigo da terra. Me remete ao homem entendendo o mundo a partir de si mesmo, centrando-se em si mesmo, sendo tão pouco altruísta, enquanto que nosso exemplo a ser seguido foi o cume do altruísmo.
    Quanto ao comentário do zlsp, sua resposta foi perfeita, mas como ele provavelmente não voltará para ler, vai continuar numa cegueira pela qual são absorvidos os adeptos de preencher seu apetite com o raso que oferece o pão e circo.

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  4. bacana....verdade, mas quem tem coragem de correr contra esse pão e circo...atual?
    procuro fazer minha parte de um tempo para cá....
    tenho moito mais a fazer.....estou mudando meu mundo, meu nicho e assim vou, procurando contagiar os poucos que me ouvem...a mudarem de dentro para fora....e de si para o mundo......
    paz e luz
    belas palavras e percepção ..

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