sexta-feira, 6 de julho de 2012

Sobre quem é a Bíblia


Nos últimos tempos, o cristianismo tem colocado demais o homem no centro de sua pregação. Num contexto ocidental em que o relativismo religioso abunda, a necessidade de mensagens terapêuticas e de auto-ajuda tem conduzido à um antropocentrismo exacerbante. A Boa Nova passou a ser que a Bíblia tem a resposta para o nossos problemas. Mas será que a Bíblia é sobre nós somente? Assista ao vídeo a seguir e reflita um pouco. 

aqui, com legenda.

          A bíblia não é sobre você ou sobre Davi. 
          Se um sermão ou mensagem não conduzir à Cristo, a Boa Nova não está sendo pregada. 
          No contexto atual das igrejas cristãs, tem-se enfocado demais na pregação biográfica, buscando expor um personagem bíblico como modelo de fé e exemplo de comportamento. Quem nunca ouvi que a história de Davi é sobre você juntar 5 pedrinhas para vencer as adversidades da vida? Enfrentar nossos gigantes? Ou de que devemos viver como tal e tal personagem? 
          O problema maior é que esse tipo de pregação é por demais focado no homem. "A glória do homem é exaltada quando os ouvintes são instados a agir com a mesma competência espiritual com que agiram os bons personagens bíblicos ou a ter mais competência espiritual que tiveram os maus personagens." Assim, "nenhuma texto bíblico visa ensinar o que podemos fazer para que nos tornemos completos ou aceitáveis a Deus por nossas obras, nem apresentar a piedade como um produto humano" (Dario de Araújo Cardoso, Abordagem Cristocêntrica para os sermões biográficos). 
          "A Bíblia não contém muitas histórias, mas uma história - a histórica única da revelação constante e contínua de Deus, a história única da obra redentiva e sempre progressiva de Deus."
          Não é que não podemos utilizar ilustrações nos sermões, nem retirar ilustrações das Escrituras, mas o problema é usar as Escrituras primariamente como uma fonte de ilustrações. 
          Porque a Bíblia é mais do que um conjunto de histórias, e quando entendemos isso, nossa mente dá um giro de 180 graus. A Bíblia é mais do que narrativas de eventos aleatórios ou selecionados através de critérios políticos, econômicos, ideológicos ou sociais. A Bíblia, consiste na história dos atos de Deus com vistas à realização e consumação do plano da redenção por meio de Cristo. 
          No tipo de pregação biográfica tem-se a tendência de espiritualizar textos históricos. Como diz Dario Cardoso, "ao invés de exigir o árduo trabalho de identificar as circunstâncias históricas do texto, seu lugar na história da redenção e, então, sua aplicação ao leitor contemporâneo, o uso da espiritualização oferece o atalho muito mais simples de buscar verdades espirituais por trás dos fatos (...). Em essência, a espiritualização nada mais é do que alegorização, a busca de verdades espirituais simbolizadas em certas passagens do texto." (um exemplo, é a alegorização do machado de Eliseu em 2Reis 6).

          "Pode-se,  portanto,  observar  a  quantidade  de  problemas  relacionados  à pregação biográfica exemplarista. Apesar de tão comum e largamente difun-dida, essa abordagem ao texto bíblico se mostra incompatível com os princí-pios reformados de hermenêutica e homilética bíblicas. Ela é essencialmente
antropocêntrica em sua abordagem e em sua interpretação do texto bíblico. Ao invés de expor os atos, pensamentos e propósitos do Deus triúno, coloca o foco nos atos, pensamentos e personalidade dos personagens e se apoia na criatividade e imaginação do pregador em estabelecer os paralelos que lhe são
mais convenientes entre o tempo bíblico e o atual. Ela banaliza a Escritura ao torná-la  um  depósito  de  ilustrações  pessoais  que  poderiam  ser  encontrados em qualquer livro religioso ou personagem histórico. Torna assim indistinto o valor das Escrituras como regra de fé e prática. Desconsidera também o valor
histórico dos textos, uma vez que se concentra apenas naquilo que interessa à aplicação moderna e busca fazê-lo através de atalhos como a moralização, a espiritualização e a tipologização. Acima de tudo, a pregação biográfica exem-plarista nega o pressuposto apostólico de que o objetivo primário da pregação" (Dario Cardoso, abordagem cristocentrica, p. 72). 

          Não é impor a referência a Cristo a todos os textos, mas ver todas as narrativas biográficas à luz de Jesus Cristo, por compreender ser este o modo correto de entender toda a Escritura em seus ensinos, leis, profecias e visões.
          veja o curto video de Matt Chandler sobre como ler a bíblia à luz do Evangelho:


          A interpretação antropocêntrica da passagem de Davi e Golias pode revelar alguns questionamentos na nossa mente? O que acontece se você lança as 5 pedras e as 5 erram o alvo. E, se ,com todo o seus esforço você não mata o gigante? Sentimentos de vergonha, remorço, frustação, surgem. Onde está Deus que não me ajudou a matar meu gigante? A história de Davi e Golias foi mais do que isso. É um anúncia de que um Salvador viria e derrotaria o gigante do pecado e da morte de uma vez por todas! Você não é Davi, Jesus é Davi. Golias é o pecado. Nós somos Israel, tremendo de medo, não querendo lutar. E Jesus vem e nos salva. 
          Não sei pra você, mas pra mim essa interpretação faz todo o sentido.

          Lendo o evangelho de Lucas e Atos dos apóstolos é interessante ver como os dois livros acabam. Jesus é sobre quem o Antigo Testamento falava. Em Lucas 24, vemos Jesus aparecer, após ressuscitado, no caminho de emaús, para dois díscipulos e lhes explica o que se falava dele desde Moisés e os profetas (v25-27). Atos acaba com Paulo discursando em Roma, procurando persuardia seus ouvintes acerca da fé em Jesus, tanto pela lei de Moisés, como pelos profetas. Em seu primeiro discurso, Pedro (Atos 2:22), apresenta Jesus Nazareno no centro de sua fala. 
          Jesus Cristo é também o tema de todo o Antigo Testamento. Quando nós lemos sobre os atos de salvação no Antigo Testamento, nós estamos sempre tendo uma indicação sobre a consumação total da sua salvação no Novo Testamento. Não há uma parte na história da salvação de Deus que não leva a Jesus Cristo. Jesus é o alfa e o ômega de nossa fé. (Bíblia de estudos genebra, p. 1554). 
          Portanto, toda a pregação deve conduzir a Cristo, do contrário, estamos pregando e falando doutrina de homens e não de Deus. 


ps: coincidentemente (ou não) Mark Driscoll está pregando uma série de sermões intitulada: "Jesus ama a sua igreja" e, em sua primeira ministração, ele fala exatamente como Jesus de Nazaré tem que ser o centro da mensagem do evangelho! assista aqui
 
E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.


Lucas 24:25-28
E ele lhes disse: O néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!

Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?

E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.


Lucas 24:25-28
E ele lhes disse: O néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!

Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?

E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.


Lucas 24:25-28 (
(a partir do minuto 45 ele quebra tudo!)

Estudos: 
http://voltemosaoevangelho.com/blog/2012/07/pregando-cristo-no-antigo-testamento-10/
Dario de Araújo Cardoso, Abordagem Cristocêntrica para os sermões biográficos.
Biblía de Genebra, artigo: Do que trata a bíblia (1553-1554)

Um comentário:

  1. Concordo. Também entendo que hoje se fala de um Deus que quer relacionamento, intimidade pessoal com cada um. Isso nos leva a envolver o divino em questões cotidianas, o que não é ruim. Acho que esse é o grande motivo que leva alguns pregadores a pregar da forma como vc menciona. É mais abstrato, e portanto mais difícil, entender esse tal de relacionamento pessoal como redenção dos pecados, apesar da extrema importância que isso tem nessa vida e na eterna. Uma questão difícil, essa!

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