domingo, 2 de setembro de 2018

Vancouver - romance histórico

Eu gosto muito de romances históricos, mas tem um estilo específico dentro do gênero que me chama muito atenção. Trata-se do romance histórico que eu chamo de trans-geracional (não sei se existe um termo certo), que narra a vida de gerações de pessoas em uma determinada cidade ou país. Eu acho uma maneira fabulosa de aprender sobre a história e costumes regionais de localidades que normalmente não temos tanto contato. Claro que não dispensa os livros de história, mas normalmente não queremos nos aprofundar em textos acadêmicos quando vamos visitar uma cidade. 
Mas eu, como gosto muito de história, gosto de pesquisar sobre uma cidade ou país que irei visitar; compreender a formação nacional, sua arquitetura, seus costumes, pra mim é fundamental; enriquece a experiência. 
Foi nesse espírito que, quando comecei a programar minha viagem para Vancouver, Canadá, para um evento acadêmico, comecei a pesquisar, não somente pensadores da minha área, mas também algum livro que tratasse a cidade de forma ficcional. Confesso que foi um pouco difícil encontrar um livro específico sobre a cidade, achando mais narrativas que utilizavam a cidade como pano de fundo. Mas, por fim, encontrei: um livro escrito por dois escritores que viveram muito tempo na cidade e já haviam escritos outros livros não-ficcionais. O livro se chama "Vancouver: a novel", por David Cruise e Alison Griffiths.

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Eu achei o livro em um sebo nos Estados Unidos por $1 (um dólar!!!), mais o frete para o Brasil, mas ainda assim o livro ficou por R$ 15. O problema maior foi que demorou pra chegar. Eu havia comprado em fevereiro, esperando que desse tempo de ler antes de minha viagem em julho. O livro acabou chegando uma semana depois de voltei...Fazer o quê...ao menos na leitura me diverti reconhecendo locais que havia visitado e que acabaram fazendo mais sentido pra entender geograficamente onde se passava os eventos do livro. 

O livro em suas 753 páginas e narra 14000 anos de história da região que viria a ser Vancouver. Claro que alguns períodos são mais detalhados que outros, até pela importância formativa do país. É impressionante perceber que a região, por ser bastante afastada no extremo oeste do continente norte-americano, se trata de um povoamento  tardio por parte de europeus, tendo início mais efetivo em meados do século XIX, com a corrida do ouro. 
Quem visita a cidade hoje, se surpreende com a infra-estrutura de uma cidade que tem menos de 200 anos. 
São 12 grandes capítulos que vão descrevendo momentos diversos da história, pelo ponto de vista de uma personagem, que não necessariamente existiram de fato. Só achei que a escolha por período e personagens poderiam ter sido melhor conduzidas, porque parece que algumas passagens não são tão importantes para a história. 
Os autores se esforçaram pra traçar um fio condutor na história, que nem sempre fica muito evidente. Mas o que perpassa toda a obra é a defesa dos habitantes originais de Vancouver, os índios, ou como são nomeados no livro "first nations", por ser um termo mais aceito por antropólogos. O livro começa e termina em torno da ideia de manter a ancestralidade e os costumes dos índios. 
O livro é muito gostoso de ler, e eu achei que tirei proveito porque havia visitado a cidade, mas não acho que quem não visitou ou não vai visitar não ache a história boa. Muitos temas da natureza humana tratada são questões universais e pode-se encarar o local como mero detalhe. 
De fato, não foi o melhor livro que li nesse estilo, de romance histórico trans-geracionais, mas gostei da leitura. Como disse, com certeza outros temas mais impactantes poderiam ter sido tratados. Como os autores deram mais ênfase aos indígenas (apesar de ter capítulos focados em personagens imigrantes chineses e alemães), questões de outras culturas não ficaram muito evidentes, e que com certeza tiveram papel importante na formação de Vancouver. A ética do trabalho européia, a religião cristã, a formação da Universidade da Colúmbia Britânica, em Vancouver, ficaram de fora, o que achei uma pena. 
Mas existem muitas obras ficcionais trans-geracionais e recomendo elas, por se tratar de uma maneira excelente e mais gostosa de se compreender a formação de um povo. Existem obras tratando de cidades como Nova York, Dublin, Londres, como as escritas por Edward Rutherfurd e de diversos países pelo grande precursor do estilo James Michener, como por exemplo "A fonte de Israel". Ken Follet também é um autor mais atual que escreve neste estilo, possuindo duas trilogias: "Os pilares da terra", que narra construção de catedrais medievais pelo ponto de vista de seus construtores e suas intrigas e "Século", que narra o destino de cinco famílias antes, durante e após a 1a Guerra Mundial. 
Nas Américas, existe o excelente "Negras raízes" de Alex Haley que traça a própria genealogia do autor indo desde seus ancestrais na África até os dias atuais, passando bastante pelo período da escravidão nos Estados Unidos. 
No Brasil, um livro similar é o catatau "Um defeito de cor" de Ana Maria Gonçalves, que foca mais no período escravista. Também tem o grande clássico "Viva o povo brasileiro" de João Ulbado Ribeiro. 

Normalmente, os romances históricos trans-geracionais são livros grandes, com estilos de escritas variáveis dentro de um mesmo livro, podendo conter vários estilos, como crime, romance, aventura etc, numa mesma obra. Parece que os autores têm uma liberdade maior de variação e experimentação na escrita. Enfim, um excelente estilo pra se aprender um pouquinho mais sobre uma cultura, ajudando a compreender permanências históricas. 


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