quinta-feira, 23 de julho de 2015

Babel - a cidade dos homens e o paradoxo tecnológico

Esse texto foi primeiramente apresentado como exposição bíblica no Curso de Férias da Abu-Sul, que aconteceu em Porto Alegre entre os dias 11 e 18 de julho.

Gênesis 11.1-32_ A torre de Babel e a descendência de Sem

Quero explorar o texto de Gênesis em três momentos:

Um primeiro, de uma forma mais exegética, isto é, procurar compreender o texto e seus sentidos.

Um segundo momento, farei uma aplicação, com base nessa exegese, para pensarmos em como Babel é atual para nossos dias. 

Em terceiro lugar, enfatizarei o papel fundamental das cidades no plano de Deus.


1- Antes de mais nada, devemos entender o papel das genealogias para as culturas bíblicas, uma vez que Gênesis é recheado delas e nossa passagem também.

Anteriormente, quando lemos em sequência o relato bíblico, passamos pela genealogia dos filhos de Noé, em Gn 10:1-32. A passagem que vou comentar termina com a genealogia dos descendentes de Sem.

Em nossa sociedade atual, na qual temos acesso fácil às informações através do oráculo universal, o google, não nos importamos muito com a história de nossa família, dos nossos antepassados. Lembro-me que, quando pequeno, esbocei a genealogia dos meus pais em um pedaço de papel, com ajuda de entrevista oral com meus avós. O historiador que havia em mim dava os primeiros passos.
Mas o fato é que, quando chegamos nas genealogias na Bíblia tendemos a pulá-las, a tratá-las com descaso. Entretanto, para as sociedades antigas, que possuíam uma cultura oral e, logo, uma memorização excelente, as genealogias eram formas de assegurar sua identidade grupal e também de relembrar os grandes feitos do passado e as promessas de Deus.
Portanto, precisamos nos aprofundar nas genealogias e procurar compreendê-las melhor.

O cap 10 traz o que se convencionou chamar de a “tábua das nações”. Cronologicamente ele vem após Gn 11, e é importante para nosso contexto pelo fato de citar Ninrode. Foquemos nossa atenção em Gn 10: 8-10. Ali se encontra a origem política e espiritual de Babilônia. Ninrode funda seu império em agressão. Seu poder o torna proverbial em Israel. Como principais centros de seu império, ele funda a grande cidade de Babilônia, mais notavelmente Babel (10.10).
Não sem ironia, o nome Ninrode significa “rebelaremos”.

1-      cap. 11 - Cidade do Homem versus Cidade de Deus

A passagem de gênesis 11. 1-9 foi escrita em um estilo que apresenta a forma de uma pirâmide. É uma clara referência irônica aos zigurates babilônicos.






Nesta passagem, vemos os babelitas e sua arrogância comparados significativamente com
os que os precederam. O ato de a humanidade construir uma torre com seu cume majestoso adentrando as nuvens representa a expressão final e máxima da arrogância humana.

No antigo Oriente Próximo, Babel reivindicava ser o centro do mundo da mesma forma que Roma era amplamente considerada como o centro religioso do santo império romano na Idade Média. A história da Torre de Babel satiriza essa vanglória. Para seus construtores, “Babel” significava “portão/residência dos deuses”, porém o narrador parodia essa significação fazendo uso de uma forma hebraica, significando “confundido” (cf. inglês, “uma babel de vozes”).
Seus construtores crêem que seu templo/torre adentra o céu; ela é tão miserável que o Senhor tem que descer do céu justamente para vê-la!

Na região que estamos tratando, a Mesopotâmia, havia falta de pedras, então se usavam os tijolos de barro e o piche. Há um documentário chamado “A ciência perdida da Bíblia” que comenta a possibilidade da construção da torre.
[documentário A ciência perdida da bíblia. ] https://www.youtube.com/watch?v=Ya9DpeJdSRE

Gn 11.4:“E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.”

Cientistas modernos fizeram testes para ver quão alto conseguiria ser a torre de babel, baseado nos materiais descritos na passagem. Fizeram tijolos de barro cozidos e secos no sol. Um cientista pega um tijolo, coloca numa máquina que faz pressão e calcula a altura que poderia alcançar a torre.

Na região, arqueólogos encontraram diversos restos de zigurats, datados da mesma época que se acredita ter acontecido a história de Babel. Construídas em formato piramidal, possibilitaria essas construções de serem bem altas, pois o formato espalha a pressão.
O cozimento dos tijolos de barro em fornos tornavam o tijolo extremamente resistentes. Através dos testes em laborátios, uma construção piramidal, com esse tipo de tijolo, seria 5 vezes mais alto que o chrysler building.




Esses zigurates, nos ensinam estudiosos da religião como Mircea Eliade, com seus degraus que subiam até um santuário no topo simbolizavam a busca por estar próximo da divindade, uma escadaria entre a terra e o céu. O nome Babilônia significa exatamente “portão para o céu”.
Mircea Eliade aponta a existência deste tipo de construções em diversos locais, incluindo a américa espanhola. Para os de babel, o objetivo era fazer “um nome” e evitar a dispersão.
           
 
Gn11.4  - “edifiquemos nós” “façamo-nos um nome”, “não sejamos espalhados”

Nestas palavras ficam evidentes os planos egoístas e orgulhosos. Homens rebeldes empreendem um esforço conjunto para conquistar, por um empreendimento humano titânico, fama mundial. Estão tentando achar imortalidade em suas próprias realizações.

Se toda a espécie humana permanecesse unida na tentativa orgulhosa de cuidar do próprio destino e, por esforços antropocêntricos assumisse o controle da história, não haveria limites. 

Num gesto irônico, Deus inverte a relação: os homens queriam chegar até Deus por suas próprias mãos, mas Deus “desce” até eles, para ver o que faziam. E além do mais, a torre é tão insignificante que Deus tem que descer para vê-la.

Em outro momento, Deus também descerá sobre os homens e inverte babel, sem a necessidade de uma construção monumental, em um local simples em meio a pessoas simples e humildes: pentecostes.

O que desgosta a Deus não é a construção de cidades, mas o orgulho e segurança humanos que o povo impõe para as cidades.

Este arranha-céu é símbolo de sua sociedade unificada e titânica que se auto-afirma contra Deus, o qual lhes ordena que “encham a terra” (9.1). Estes pecadores presunçosos, como Caim , temem a perda do lugar (i.e., significado existencial) em sua alienação de Deus, e talvez entre si (ver 4.14). Como ele, encontram sua solução para o significado numa cidade permanente que se rivalize com Deus. (voltaremos à isso mais tarde).

De um lado, as genealogias segmentadas da Tábua apresentam a interconexão de todos os povos. São todos descendentes de Adão e Noé; estão sob a bênção divina da fertilidade; e têm dignidade de portadores da imagem de Deus para subjugarem a terra.

Do outro lado, a narrativa da Torre de Babel mostra a necessidade de divisão. A humanidade depravada se une em seu empenho espiritual de achar, através da tecnologia, significado existencial fora de Deus e o meio de transgredir suas fronteiras. A menos que Deus intervenha e os divida, confundindo sua linguagem, nada pode deter os seres humanos em seu presumido orgulho e em seu anseio por autonomia. Evadirão as fronteiras que o Criador estabeleceu. Como Adão, buscam usurpar o governo do próprio conselho divino.

“Implicitamente, eles querem, talvez de uma forma um tanto inconsciente, tornar possível a história da salvação, a qual, segundo a mensagem bíblica, é essencialmente o emocionante diálogo entre Deus e o homem. Implicitamente, querem penetrar o estritamente divino e tornar-se eles próprios divinos. O que os move é a arrogância.” (Fokkelman, Genesis, 17.)

Vemos como, em síntese, o narrador comunica em linguagem a ideia de que essa arrogância tem, não só um componente ‘positivo’, megalomania, querer ser igual a Deus, mas também um negativo, medo, o medo de ser disperso demais, de ter que viver sem a segurança e certeza existenciais, de ficar sozinho e vulnerável.”

As cidades que Ninrode construiu são uma réplica de Babel e sua torre. Representam o espírito humano em alcançar significação e segurança através de sua tecnologia coletiva, independentemente de Deus. No coração da cidade do homem está o amor egoístico e o ódio por Deus. A cidade revela que o espírito humano não se deterá por nada enquanto não usurpar o trono de Deus no céu.



2-      A torre de Babel de Peter Bruguel - a pretensa autonomia da ciência e da tecnologia


Esta pintura é o quadro mais famoso tratando da construção da torre de babel. foi pintado por Pieter Bruegel, nascido no ducado de Brabant, uma região que era da Holanda que hoje faz parte da Bélgica.
Ele pintou esse quadro em 1563. No primeiro plano, vemos Ninrode, como o chefe construtor. Segundo historiadores, na época e cidade de Bruegel era comum invocar Babel para descrever a condição de controvérsia religiosa e confusão na Holanda. Oito anos antes de Brueguel nascer, em 1517, Martim Lutero havia fixado suas 95 teses na catedral de Wittenberg. O fato era que, na época de Bruegel, tanto católicos quanto protestantes usavam a Torre de Babel como símbolo da dissolução do cristianismo em várias facções. Também a imagem era empregada para descrever e explicar a fragmentação que atacava o mundo moderno. E, por fim, fazia uma crítica ao humanismo recente, com suas pretensões de centralidade e autonomia do homem.

Este período da vida de Bruegel, o período renascentista, marca o início da revolução ciêntifica, onde ciência vai se tornando autônoma do pensamento religioso, apesar de ter sido esse que havia possibilitado a revolução. Tem início, então, a noção de que a ciência e a tecnologia poderiam responder à todos os nossos problemas, reconquistar o Paraíso Perdido através da crença no progresso. Ocorre paulatinamente, uma secularização do pensamento cristão pela ciência.

O fotógrafo Paul Strand[1] afirma que a humanidade consumou um novo ato criativo, uma nova trindade: Deus a máquina, empirismo materialista o Filho, e ciência o Espírito Santo.


Assim, entramos no tema da tecnologia. Fui bastante influenciado pela discussão presente em “Christian in babel” de Egbert Schuurman e diversos textos de Jacques Ellul.

A tecnologia, que capacita os seres humanos a subjugarem a terra e em parte os põe acima dos animais, é um precioso dom de Deus ao povo. Não obstante, o povo a perverte. Visto que a palavra nome denota fama e progênie, os construtores da cidade estavam futilmente tentando achar significação e imortalidade em sua tecnologia e em suas realizações. Entretanto, a tecnologia não pode comunicar a bênção divina.
Hoje, a cidade e sua civilização são sinais de separação entre a humanidade e Deus. Ela não pode renovar a familiaridade divina do paraíso perdido.
O fracasso da tecnologia secular é simbolizado pela imperfeição de seu projeto. Enquanto Deus estabelece um número completo de nações, os construtores de torre, sob a ira divina, não podem completar seu projeto.
A partir da era moderna, com o Renascimento, continuou-se a usar a terminologia cristã, mas agora com uma perspectiva antropocêntrica. a criação não era mais considerada trabalho de Deus, mas trabalho humano; a queda não era uma negação de Deus, mas um negação de si mesmo; redenção, não é mais a restauração da comunhão com Deus através de Jesus Cristo, mas antes a afirmação de que o homem pode aprender a se firmar sobre seus dois pés; crença não é mais a confiança em Deus, mas a fé em si mesmo. E finalmente, o futuro não é o que Deus coloca no caminho do homem, mas a organização do mundo de acordo com seus próprios insights.

Esse espírito da Renascença desde então permeou o desenvolvimento em economia, politica, ciência e tecnologia. O homem tem se tornado a medida de todas as coisas.

Portanto, como Egbert Schuurman aponta, temos o desenvolvimento da cultura tecno-cientifica, uma cultura de Babel. Somos exilados nessa cultura. 

Parece que essa cultura é descrita em Apocalipse 13, que profetiza que a besta do poder político irá se fortalecer perto do fim dos tempos, através da mobilização da besta da terra, que podemos pensar como uma besta dos poderes da tecnologia e da ciência.

Portanto, como cristãos nós somos chamados a não evitar o mundo, mas a nos engajarmos. A perspectiva de renovação é uma perspectiva de pensamento responsável e ação. Nós não devemos negar a grande importância da ciência; mas nós devemos resistir à crença de que o homem é independente, pensamento que tem tomado parcela da ciência e da tecnologia. Tanto a ciência quanto a tecnologia devem ser submetidas a um pensamento e ação responsáveis.

Nós podemos entender melhor o serviço que a ciência e a tecnologia podem prover para nossa cultura quando nós retornarmos ao motivo original (ground motive, ver Herman Dooyeweerd. No crepúsculo do pensamento). A Bíblia nos ensina nos primeiros capítulos de Gênesis que é permitido ao homem construir sobre a criação, mas somente com a intenção de preservar essa criação.

Nossa cultura de Babel tem reduzido a ciência a uma caricatura de si mesma. Como exilados nessa cultura, nós devemos restaurar ela para sua normatividade e significado originais.
Isso se refere a problemas globais de nosso tempo, tais como biotecnologia, tecnologia computacional, problemas energéticos, mas também problemas mais pessoais como aborto, crime, a dissolução do casamento e da família.

A responsabilidade de um cristão em tal cultura [babilônica] não pode ser negada. Um cristão deve implorar por uma vida cultura coram Deo, por um desenvolvimento cultural responsável. Ao mesmo tempo, o cristão deve avaliar seu tempo profeticamente: ele deve lembrar às pessoas acerca do indescritível desastre que irá ocorrer se não houver arrependimento.  Os cristãos precisarão proclamar que soluções políticas não podem alterar o curso corrente de nossa cultura moderna. Eles irão sustentar que, sob nosso atual pântano cultural se encontra a escolha religiosa radical dos homens. Os cristãos devem confrontar o espírito de nossa cultura atual tendo por base a Palavra de Deus, e a partir dessa Palavra, devem procurar por respostas politicas normativas apropriadas. Uma avaliação e análise proféticas da cultura uma tarefa para a qual as igrejas têm sido chamadas irá possibilitar os cristãos, incluindo aqueles ativos na politica, a exercer influência em amplos desenvolvimentos da cultura.

Neste sentido é muito pertinente a recente encíclica do Papa Francisco  Laudato si(louvado seja): 

Todo o documento é muito interessante, mas especificamente o capítulo III, “A raiz humana da crise ecológica, é o mais pertinente para nós. Ali se comenta a questão da tecnologia em nossos dias, e como os cristão devem reagir:

103. A tecnociência, bem orientada, pode produzir coisas realmente valiosas para melhorar a qualidade de vida do ser humano, desde os objectos de uso doméstico até aos grandes meios de transporte, pontes, edifícios, espaços públicos. É capaz também de produzir coisas belas e fazer o ser humano, imerso no mundo material, dar o «salto» para o âmbito da beleza. Poder-se-á negar a beleza de um avião ou de alguns arranha-céus? Há obras pictóricas e musicais de valor, obtidas com o recurso aos novos instrumentos técnicos. Assim, no desejo de beleza do artífice e em quem contempla esta beleza dá-se o salto para uma certa plenitude propriamente humana.”

Portanto, a tecnologia pode e deve ser algo que ajude o ser humano como um todo.


Voltado ao texto, temos por fim, a confusão da linguagem.
Paremos para refletir no fato de que a linguagem da ciência é uma linguagem universal. Tanto um americano quanto um japones podem compreender os resultados científicos propostos uns dos outros. A ciência procurou unificar a linguagem. Por isso ela se tornou a marca do progresso e da possibilidade de, a partir de uma linguagem matemática comum, descobrir as leis do universo. O problema ocorre quando, a partir da constituição da ciência com essa linguagem comum, o homem vai se tornando cada vez mais autônomo. Não precisa mais de Deus para dar cabo de explicar o mundo. Deus não é mais necessário e, paulatinamente, a ideologia do progresso na ciência e na tecnologia passaram a ocupar o centro do desenvolvimento humano.
Mas mesmo essa linguagem pode ser confundida, os paradigmas podem ser mudados…


3-


Fiquei bastante impressionado quando um aluno me apresentou o projeto de Jacques Fresco. Se trata de uma cidade focada na tecnologia, através dos princípios de um tal de  trans-humanismo. Parece-me exatamente o que é esboçado no Filme Transcendência. O resultado também está colocado no filme. Mas eu não vou estragar a surpresa de quem não viu o filme e não vou dizer o final.

Pensando em cidades, façamos um estudo antropológico/geográfico/urbanístico da localização das igrejas em uma cidade. Normalmente é estratégico. Mas estratégico em que sentido? Uma vez que normalmente nossas missões são transculturais, a igreja não precisa estar localizada em local chave dentro da cidade.
Mas e a nossa cultura? Não precisa ser redimida? Como cristãos estamos vivendo na babel e queremos alcançar quem está longe. Mas e a nossa cultura? Não precisa ser discipulada?

Agostinho, (A cidade de Deus) tinha a ideia da cidade de babel como a cidade dos homens, em contraposição à cidade de Deus. Isso não se deve ao fato de Deus ser contra as cidades, até porque o relato bíblico se inicia em um jardim e termina em uma cidade, a Jerusalém celestial.
O problema está na desordem, na confusão causada na cidade que se afasta de Deus. Em sua arrogância, em sua busca por criar uma cultura homogênea separada de Deus, uma cultura materialista, cujas estruturas residem na ciência e na tecnologia, torna esses aspectos ídolos que prometem promessas que não podem ser cumpridas.

Portanto, não é por acaso que nós cristãos lidamos negativamente com o fenômeno das grandes cidades. Surge logo o questionamento: como os cristãos, que foram feitos para uma cidade celestial, que obviamente ainda não surgiu no cenário global, podem investir seu tempo e recursos para abençoar a cidade dos homens?

De fato, são inúmeras as passagens bíblicas que parecem favorecer uma visão não muito otimista da cidade.

Jonas Madureira diz que “Como se não bastasse o farto referencial bíblico que favorece o receio ou a suspeita com relação à cidade, a própria tradição cristã também dá mostras de seguir um perfil aparentemente pessimista. Isso é visível não apenas no surgimento dos monastérios, que se distanciavam do dia a dia das cidades do século III d.C., mas sobretudo no próprio pensamento cristão, que partia do pressuposto de que a presença dos cristãos nas cidades sempre seria inóspita, como é o caso, por exemplo, de A cidade de Deus, de Santo Agostinho.” http://jonasmadureira.com/2014/12/


Para Tim Keller, a cidade possui uma natureza dupla, abíguia:
É a luta entre a Babilônia, representando a cidade do homem, e Jerusalém, representando a cidade de Deus. A cidade terrena é uma metáfora da vida humana construída sem Deus, criada para a autossalvação, para o autosserviço e para a autoglorificação. Ela retrata o cenário de exploração e injustiça. Mas a cidade de Deus é uma cidade baseada em sua glória e no serviço sacrificial a Deus e ao próximo. Essa cidade apresenta um cenário de paz e justiça.”

Apesar de tudo isso não podemos abandonar as cidades. Os primeiros cristãos, que tinham tudo para abandonar as grandes cidades devido à perseguição, atuavam nelas ativamente.

O pensamento nosso com relação à relação entre igreja e cidade é paradoxal. Como comenta Jonas Madureira, “desejamos que nossos filhos se envolvam cada vez mais com as atividades da igreja, porque reconhecemos que as cidades são tão perigosas e podem com extrema facilidade levá-los facilmente para o mau caminho. Entretanto, ao mesmo tempo, incentivamos nossos filhos a entrarem na universidade para se tornarem profissionais altamente capacitados para trabalharem “fora da igreja”, i.e., na cidade.”

Madureira ainda comenta “É preciso reconhecer que grande parte da nossa classe não está interessada em se preparar intelectual e culturalmente, e menos ainda em se envolver com a cidade como um Jonathan Edwards ou um Abraham Kuyper se envolveram. A propósito, ambos pastores, apesar de filósofos e fundadores de universidades.”

Devemos nos envolver nas questões da cidade!


Concluindo, deve-se abandonar qualquer pensamento negativo em relação à tecnologia e que devemos todos nos posicionar contra os avanços científicos e tecnológicos. Mas o que quero afirmar é que devemos colocar tudo isso sobre o domínio de Cristo.
Deus nos colocou no mundo não porque não nos envolvêssemos nele. Mas para cultivá-lo e redimí-lo. 
Precisamos redimir a tecnologia.

Nosso Deus veio como um humilde homem. Como uma inversão de babel, o Espirito Santo desceu nos homens no pentecostes. Não para confundir, mas tornar nossa fé algo inteligível. Para tornar uno um corpo bem distinto. Pessoas de linguagem e cultura completamente diferentes encontram unidade em Cristo, não em tecnologias e ciências. A verdade é Cristo, em quem estão escondidos os tesouros da sabedoria. E temos acesso direto a ele. Não precisamos construir artefatos humanos pata alcançá-lo.

Assim, a passagem da torre de Babel acaba em Gn 11.10-26, no relato dos descendentes de Sem. Ao traçar a linhagem de Sem, abençoado por Deus, a Abraão, seu legítimo herdeiro, o qual se tornará o canal divino de bênção a todas as tribos e nações, a genealogia, inferencialmente, apresenta a presença graciosa de Deus no seio da humanidade orgulhosa. No contexto da humanidade rebelde dispersa por Deus, sobre a face da terra (11.1-9), o Senhor preserva a semente à qual ele se fiou para ser o seu Deus.

A genealogia de Sem termina com a promessa do nascimento de Abraão. Sem, em hebraico, significa “nome”. Ironicamente, os construtores da torre estavam buscando “renome”, porém não tiveram nomes, e a cidade que construíram recebe o vergonhoso nome de “Confusão”. Deus dá aos eleitos de Sem um nome perene nesta genealogia e, acima de tudo, exaltará o nome dos descendentes fiéis de Abraão (ver 12.2).



bibliografia:

THE LABOURS OF TRANSLATION: TOWARDS UTOPIA IN BRUEGEL’S TOWER OF BABEL. Vytas Narusevicius. WRECK: volume 4, number 1 (2013).

Jonas Madureira. urbanofobia: http://jonasmadureira.com/2014/12/

Bruce Waltke. Comentário de Gênesis. Editora cultura cristã, 2003.

Tim Keller. Center church. Doing balanced, gosple-centered ministry in your city.

Agostinho. Cidade de Deus.

Vinoth Ramachandra, A falência dos Deus. Abu editora.

Egbert Schuurman. Christians in babel



[1] Citado por Wiebe E. Bijker. Of bicicles, bakelits and bulbs, p. 222. 

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