Esse texto foi primeiramente
apresentado como exposição bíblica no Curso de Férias da Abu-Sul, que aconteceu
em Porto Alegre entre os dias 11 e 18 de julho.
Gênesis 11.1-32_ A
torre de Babel e a descendência de Sem
Quero explorar o texto
de Gênesis em três momentos:
Um primeiro, de uma
forma mais exegética, isto é, procurar compreender o texto e seus sentidos.
Um segundo momento, farei
uma aplicação, com base nessa exegese, para pensarmos em como Babel é atual
para nossos dias.
Em terceiro lugar,
enfatizarei o papel fundamental das cidades no plano de Deus.
1- Antes de mais nada,
devemos entender o papel das genealogias para as culturas bíblicas, uma vez que
Gênesis é recheado delas e nossa passagem também.
Anteriormente, quando
lemos em sequência o relato bíblico, passamos pela genealogia dos filhos de
Noé, em Gn 10:1-32. A passagem que vou comentar termina com a genealogia dos
descendentes de Sem.
Em nossa sociedade
atual, na qual temos acesso fácil às informações através do oráculo universal,
o google, não nos importamos muito com a história de nossa família, dos nossos
antepassados. Lembro-me que, quando pequeno, esbocei a genealogia dos meus pais
em um pedaço de papel, com ajuda de entrevista oral com meus avós. O historiador
que havia em mim dava os primeiros passos.
Mas o fato é que,
quando chegamos nas genealogias na Bíblia tendemos a pulá-las, a tratá-las com
descaso. Entretanto, para as sociedades antigas, que possuíam uma cultura oral
e, logo, uma memorização excelente, as genealogias eram formas de assegurar sua
identidade grupal e também de relembrar os grandes feitos do passado e as
promessas de Deus.
Portanto, precisamos
nos aprofundar nas genealogias e procurar compreendê-las melhor.
O cap 10 traz o que se
convencionou chamar de a “tábua das nações”. Cronologicamente ele vem após Gn
11, e é importante para nosso contexto pelo fato de citar Ninrode. Foquemos nossa
atenção em Gn 10: 8-10. Ali se encontra a origem política e espiritual de
Babilônia. Ninrode funda seu império em agressão. Seu poder o torna proverbial
em Israel. Como principais centros de seu império, ele funda a grande cidade de
Babilônia, mais notavelmente Babel (10.10).
Não sem ironia, o nome
Ninrode significa “rebelaremos”.
1- cap. 11 - Cidade do Homem versus
Cidade de Deus
A passagem de gênesis
11. 1-9 foi escrita em um estilo que apresenta a forma de uma pirâmide. É uma
clara referência irônica aos zigurates babilônicos.
Nesta passagem, vemos os
babelitas e sua arrogância comparados significativamente com
os que os precederam. O
ato de a humanidade construir uma torre com seu cume majestoso adentrando as
nuvens representa a expressão final e máxima da arrogância humana.
No antigo Oriente Próximo,
Babel reivindicava ser o centro do mundo da mesma forma que Roma era amplamente
considerada como o centro religioso do santo império romano na Idade Média. A
história da Torre de Babel satiriza essa vanglória. Para seus construtores,
“Babel” significava “portão/residência dos deuses”, porém o narrador parodia essa
significação fazendo uso de uma forma hebraica, significando “confundido” (cf.
inglês, “uma babel de vozes”).
Seus construtores crêem
que seu templo/torre adentra o céu; ela é tão miserável que o Senhor tem que
descer do céu justamente para vê-la!
Na região que estamos
tratando, a Mesopotâmia, havia falta de pedras, então se usavam os tijolos de
barro e o piche. Há um documentário chamado “A ciência perdida da Bíblia” que
comenta a possibilidade da construção da torre.
[documentário A ciência
perdida da bíblia. ] https://www.youtube.com/watch?v=Ya9DpeJdSRE
Gn 11.4:“E disseram: Eia,
edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos
um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.”
Cientistas modernos
fizeram testes para ver quão alto conseguiria ser a torre de babel, baseado nos
materiais descritos na passagem. Fizeram tijolos de barro cozidos e secos no
sol. Um cientista pega um tijolo, coloca numa máquina que faz pressão e calcula
a altura que poderia alcançar a torre.
Na região, arqueólogos
encontraram diversos restos de zigurats, datados da mesma época que se acredita
ter acontecido a história de Babel. Construídas em formato piramidal,
possibilitaria essas construções de serem bem altas, pois o formato espalha a
pressão.
O cozimento dos tijolos
de barro em fornos tornavam o tijolo extremamente resistentes. Através dos
testes em laborátios, uma construção piramidal, com esse tipo de tijolo, seria
5 vezes mais alto que o chrysler building.
Esses zigurates, nos
ensinam estudiosos da religião como Mircea Eliade, com seus degraus que subiam
até um santuário no topo simbolizavam a busca por estar próximo da divindade,
uma escadaria entre a terra e o céu. O nome Babilônia significa exatamente “portão
para o céu”.
Mircea Eliade aponta a
existência deste tipo de construções em diversos locais, incluindo a américa
espanhola. Para os de babel, o objetivo era fazer “um nome” e evitar a
dispersão.
Gn11.4 - “edifiquemos nós” “façamo-nos um nome”, “não sejamos
espalhados”
Nestas palavras ficam evidentes os planos
egoístas e orgulhosos. Homens rebeldes empreendem um esforço conjunto para
conquistar, por um empreendimento humano titânico, fama mundial. Estão tentando
achar imortalidade em suas próprias realizações.
Se toda a espécie humana
permanecesse unida na tentativa orgulhosa de cuidar do próprio destino e, por
esforços antropocêntricos assumisse o controle da história, não haveria limites.
Num gesto irônico, Deus inverte a
relação: os homens queriam chegar até Deus por suas próprias mãos, mas Deus
“desce” até eles, para ver o que faziam. E além do mais, a torre é tão
insignificante que Deus tem que descer para vê-la.
Em outro momento, Deus também descerá sobre
os homens e inverte babel, sem a necessidade de uma construção monumental, em
um local simples em meio a pessoas simples e humildes: pentecostes.
O que desgosta a Deus
não é a construção de cidades, mas o orgulho e segurança humanos que o povo impõe
para as cidades.
Este arranha-céu é
símbolo de sua sociedade unificada e titânica que se auto-afirma contra Deus, o
qual lhes ordena que “encham a terra” (9.1). Estes pecadores presunçosos, como
Caim , temem a perda do lugar (i.e., significado existencial) em sua alienação
de Deus, e talvez entre si (ver 4.14). Como ele, encontram sua solução para o
significado numa cidade permanente que se rivalize com Deus. (voltaremos à isso
mais tarde).
De um lado, as
genealogias segmentadas da Tábua apresentam a interconexão de todos os povos.
São todos descendentes de Adão e Noé; estão sob a bênção divina da fertilidade;
e têm dignidade de portadores da imagem de Deus para subjugarem a terra.
Do outro lado, a
narrativa da Torre de Babel mostra a necessidade de divisão. A humanidade
depravada se une em seu empenho espiritual de achar, através da tecnologia,
significado existencial fora de Deus e o meio de transgredir suas fronteiras. A
menos que Deus intervenha e os divida, confundindo sua linguagem, nada pode
deter os seres humanos em seu presumido orgulho e em seu anseio por autonomia.
Evadirão as fronteiras que o Criador estabeleceu. Como Adão, buscam usurpar o
governo do próprio conselho divino.
“Implicitamente, eles
querem, talvez de uma forma um tanto inconsciente, tornar possível a história
da salvação, a qual, segundo a mensagem bíblica, é essencialmente o emocionante
diálogo entre Deus e o homem. Implicitamente, querem penetrar o estritamente
divino e tornar-se eles próprios divinos. O que os move é a arrogância.”
(Fokkelman, Genesis, 17.)
Vemos como, em síntese,
o narrador comunica em linguagem a ideia de que essa arrogância tem, não só um
componente ‘positivo’, megalomania, querer ser igual a Deus, mas também um
negativo, medo, o medo de ser disperso demais, de ter que viver sem a segurança
e certeza existenciais, de ficar sozinho e vulnerável.”
As cidades que Ninrode
construiu são uma réplica de Babel e sua torre. Representam o espírito humano
em alcançar significação e segurança através de sua tecnologia coletiva,
independentemente de Deus. No coração da cidade do homem está o amor egoístico
e o ódio por Deus. A cidade revela que o espírito humano não se deterá por nada
enquanto não usurpar o trono de Deus no céu.
2- A torre de Babel de Peter Bruguel -
a pretensa autonomia da ciência e da tecnologia
Esta pintura é o quadro
mais famoso tratando da construção da torre de babel. foi pintado por Pieter
Bruegel, nascido no ducado de Brabant, uma região que era da Holanda que hoje
faz parte da Bélgica.
Ele pintou esse quadro
em 1563. No primeiro plano, vemos Ninrode, como o chefe construtor. Segundo
historiadores, na época e cidade de Bruegel era comum invocar Babel para
descrever a condição de controvérsia religiosa e confusão na Holanda. Oito anos
antes de Brueguel nascer, em 1517, Martim Lutero havia fixado suas 95 teses na
catedral de Wittenberg. O fato era que, na época de Bruegel, tanto católicos
quanto protestantes usavam a Torre de Babel como símbolo da dissolução do
cristianismo em várias facções. Também a imagem era empregada para descrever e
explicar a fragmentação que atacava o mundo moderno. E, por fim, fazia uma
crítica ao humanismo recente, com suas pretensões de centralidade e autonomia
do homem.
Este período da vida de
Bruegel, o período renascentista, marca o início da revolução ciêntifica, onde
ciência vai se tornando autônoma do pensamento religioso, apesar de ter sido
esse que havia possibilitado a revolução. Tem início, então, a noção de que a
ciência e a tecnologia poderiam responder à todos os nossos problemas,
reconquistar o Paraíso Perdido através da crença no progresso. Ocorre
paulatinamente, uma secularização do pensamento cristão pela ciência.
O fotógrafo Paul Strand[1]
afirma que a humanidade consumou um novo ato criativo, uma nova trindade: Deus
a máquina, empirismo materialista o Filho, e ciência o Espírito Santo.
Assim, entramos no tema
da tecnologia. Fui bastante influenciado pela discussão presente em “Christian
in babel” de Egbert Schuurman e diversos textos de Jacques Ellul.
A tecnologia, que
capacita os seres humanos a subjugarem a terra e em parte os põe acima dos
animais, é um precioso dom de Deus ao povo. Não obstante, o povo a perverte.
Visto que a palavra nome denota fama e progênie, os construtores da cidade
estavam futilmente tentando achar significação e imortalidade em sua tecnologia
e em suas realizações. Entretanto, a tecnologia não pode comunicar a bênção
divina.
Hoje, a cidade e sua
civilização são sinais de separação entre a humanidade e Deus. Ela não pode
renovar a familiaridade divina do paraíso perdido.
O fracasso da
tecnologia secular é simbolizado pela imperfeição de seu projeto. Enquanto Deus
estabelece um número completo de nações, os construtores de torre, sob a ira
divina, não podem completar seu projeto.
A partir da era
moderna, com o Renascimento, continuou-se a usar a terminologia cristã, mas
agora com uma perspectiva antropocêntrica. a criação não era mais considerada
trabalho de Deus, mas trabalho humano; a queda não era uma negação de Deus, mas
um negação de si mesmo; redenção, não é mais a restauração da comunhão com Deus
através de Jesus Cristo, mas antes a afirmação de que o homem pode aprender a
se firmar sobre seus dois pés; crença não é mais a confiança em Deus, mas a fé
em si mesmo. E finalmente, o futuro não é o que Deus coloca no caminho do homem,
mas a organização do mundo de acordo com seus próprios insights.
Esse espírito da Renascença
desde então permeou o desenvolvimento em economia, politica, ciência e
tecnologia. O homem tem se tornado a medida de todas as coisas.
Portanto, como Egbert
Schuurman aponta, temos o desenvolvimento da cultura tecno-cientifica, uma
cultura de Babel. Somos exilados nessa cultura.
Parece que essa cultura
é descrita em Apocalipse 13, que profetiza que a besta do poder político irá se
fortalecer perto do fim dos tempos, através da mobilização da besta da terra,
que podemos pensar como uma besta dos poderes da tecnologia e da ciência.
Portanto, como cristãos
nós somos chamados a não evitar o mundo, mas a nos engajarmos. A perspectiva de
renovação é uma perspectiva de pensamento responsável e ação. Nós não devemos
negar a grande importância da ciência; mas nós devemos resistir à crença de que
o homem é independente, pensamento que tem tomado parcela da ciência e da
tecnologia. Tanto a ciência quanto a tecnologia devem ser submetidas a um
pensamento e ação responsáveis.
Nós podemos entender
melhor o serviço que a ciência e a tecnologia podem prover para nossa cultura quando
nós retornarmos ao motivo original (ground motive, ver Herman Dooyeweerd. No
crepúsculo do pensamento). A Bíblia nos ensina nos primeiros capítulos de
Gênesis que é permitido ao homem construir sobre a criação, mas somente com a
intenção de preservar essa criação.
Nossa cultura de Babel
tem reduzido a ciência a uma caricatura de si mesma. Como exilados nessa
cultura, nós devemos restaurar ela para sua normatividade e significado
originais.
Isso se refere a
problemas globais de nosso tempo, tais como biotecnologia, tecnologia
computacional, problemas energéticos, mas também problemas mais pessoais como
aborto, crime, a dissolução do casamento e da família.
A responsabilidade de um cristão em tal cultura [babilônica] não pode ser negada. Um cristão deve implorar por uma vida cultura
coram Deo, por um desenvolvimento
cultural responsável. Ao mesmo tempo, o cristão deve avaliar seu tempo
profeticamente: ele deve lembrar às pessoas acerca do indescritível desastre que irá ocorrer se não houver arrependimento. Os cristãos precisarão proclamar que soluções políticas não podem alterar o curso corrente de
nossa cultura moderna. Eles irão sustentar que, sob nosso atual pântano cultural se encontra a escolha
religiosa radical dos homens. Os cristãos devem confrontar o espírito de
nossa cultura atual tendo por base a Palavra de Deus, e a partir dessa Palavra,
devem procurar por respostas politicas normativas apropriadas. Uma avaliação e análise proféticas da cultura – uma tarefa para a qual as igrejas têm sido chamadas – irá possibilitar os cristãos, incluindo aqueles ativos na
politica, a exercer influência em amplos desenvolvimentos da cultura.
Todo o documento é
muito interessante, mas especificamente o capítulo III, “A raiz humana da crise
ecológica, é o mais pertinente para nós. Ali se comenta a questão da tecnologia
em nossos dias, e como os cristão devem reagir:
“103. A tecnociência, bem orientada, pode produzir coisas realmente valiosas para melhorar a qualidade de vida do ser humano, desde os objectos de uso doméstico até aos grandes meios de transporte, pontes, edifícios, espaços públicos. É capaz também de produzir coisas belas e fazer o ser humano, imerso no mundo material, dar o «salto» para o âmbito da beleza. Poder-se-á negar a beleza de um avião ou de alguns arranha-céus? Há obras pictóricas e musicais de valor, obtidas com o recurso aos novos instrumentos técnicos. Assim, no desejo de beleza do artífice e em quem contempla esta beleza dá-se o salto para uma certa plenitude propriamente humana.”
Portanto, a tecnologia
pode e deve ser algo que ajude o ser humano como um todo.
Voltado ao texto, temos
por fim, a confusão da linguagem.
Paremos para refletir
no fato de que a linguagem da ciência é uma linguagem universal. Tanto um
americano quanto um japones podem compreender os resultados científicos propostos
uns dos outros. A ciência procurou unificar a linguagem. Por isso ela se tornou
a marca do progresso e da possibilidade de, a partir de uma linguagem
matemática comum, descobrir as leis do universo. O problema ocorre quando, a
partir da constituição da ciência com essa linguagem comum, o homem vai se
tornando cada vez mais autônomo. Não precisa mais de Deus para dar cabo de
explicar o mundo. Deus não é mais necessário e, paulatinamente, a ideologia do
progresso na ciência e na tecnologia passaram a ocupar o centro do
desenvolvimento humano.
Mas mesmo essa linguagem
pode ser confundida, os paradigmas podem ser mudados…
3-
Fiquei bastante
impressionado quando um aluno me apresentou o projeto de Jacques Fresco. Se
trata de uma cidade focada na tecnologia, através dos princípios de um tal de trans-humanismo. Parece-me exatamente o que é
esboçado no Filme Transcendência. O resultado também está
colocado no filme. Mas eu não vou estragar a surpresa de quem não viu o filme e
não vou dizer o final.
Pensando em cidades, façamos
um estudo antropológico/geográfico/urbanístico da localização das igrejas em
uma cidade. Normalmente é estratégico. Mas estratégico em que sentido? Uma vez
que normalmente nossas missões são transculturais, a igreja não precisa estar
localizada em local chave dentro da cidade.
Mas e a nossa cultura?
Não precisa ser redimida? Como cristãos estamos vivendo na babel e queremos
alcançar quem está longe. Mas e a nossa cultura? Não precisa ser discipulada?
Agostinho, (A cidade de
Deus) tinha a ideia da cidade de babel como a cidade dos homens, em contraposição
à cidade de Deus. Isso não se deve ao fato de Deus ser contra as cidades, até
porque o relato bíblico se inicia em um jardim e termina em uma cidade, a
Jerusalém celestial.
O problema está na
desordem, na confusão causada na cidade que se afasta de Deus. Em sua
arrogância, em sua busca por criar uma cultura homogênea separada de Deus, uma
cultura materialista, cujas estruturas residem na ciência e na tecnologia,
torna esses aspectos ídolos que prometem promessas que não podem ser cumpridas.
Portanto, não é por
acaso que nós cristãos lidamos negativamente com o fenômeno das grandes
cidades. Surge logo o questionamento: como os cristãos, que foram feitos para uma cidade celestial, que
obviamente ainda não surgiu no cenário global, podem investir seu tempo e
recursos para abençoar a cidade dos homens?
De fato, são inúmeras
as passagens bíblicas que parecem favorecer uma visão não muito otimista da
cidade.
Jonas Madureira diz que
“Como se não bastasse o farto referencial bíblico que favorece o receio ou a
suspeita com relação à cidade, a própria tradição cristã também dá mostras de
seguir um perfil aparentemente pessimista. Isso é visível não apenas no
surgimento dos monastérios, que se distanciavam do dia a dia das cidades do
século III d.C., mas sobretudo no próprio pensamento cristão, que partia do
pressuposto de que a presença dos cristãos nas cidades sempre seria inóspita,
como é o caso, por exemplo, de A cidade
de Deus, de Santo Agostinho.” http://jonasmadureira.com/2014/12/
Para Tim Keller, a cidade possui uma natureza dupla,
abíguia:
“É a luta entre a
Babilônia, representando a cidade do homem, e Jerusalém, representando a cidade
de Deus. A cidade terrena é uma metáfora da vida humana construída sem Deus,
criada para a autossalvação, para o autosserviço e para a autoglorificação. Ela
retrata o cenário de exploração e injustiça. Mas a cidade de Deus é uma cidade
baseada em sua glória e no serviço sacrificial a Deus e ao próximo. Essa cidade
apresenta um cenário de paz e justiça.”
Apesar de tudo isso não podemos abandonar as cidades. Os
primeiros cristãos, que tinham tudo para abandonar as grandes cidades devido à
perseguição, atuavam nelas ativamente.
O pensamento nosso com relação à relação entre igreja e
cidade é paradoxal. Como comenta Jonas Madureira, “desejamos que nossos filhos se envolvam cada vez mais com
as atividades da igreja, porque reconhecemos que as cidades são tão perigosas e podem com
extrema facilidade levá-los facilmente para o mau caminho. Entretanto, ao mesmo
tempo, incentivamos nossos filhos a entrarem na universidade para se tornarem
profissionais altamente capacitados para trabalharem “fora da igreja”, i.e., na
cidade.”
Madureira ainda comenta
“É preciso reconhecer que grande parte da nossa classe não está interessada em
se preparar intelectual e culturalmente, e menos ainda em se envolver com a
cidade como um Jonathan Edwards ou um Abraham Kuyper se envolveram. A
propósito, ambos pastores, apesar de filósofos e fundadores de universidades.”
Devemos nos envolver
nas questões da cidade!
Concluindo, deve-se abandonar qualquer pensamento negativo
em relação à tecnologia e que devemos todos nos posicionar contra os avanços científicos
e tecnológicos. Mas o que quero afirmar é que devemos colocar tudo isso sobre o
domínio de Cristo.
Deus
nos colocou no mundo não porque não nos envolvêssemos nele. Mas para cultivá-lo
e redimí-lo.
Precisamos
redimir a tecnologia.
Nosso
Deus veio como um humilde homem. Como uma inversão de babel, o Espirito Santo
desceu nos homens no pentecostes. Não para confundir, mas tornar nossa fé algo inteligível.
Para tornar uno um corpo bem distinto. Pessoas de linguagem e cultura
completamente diferentes encontram unidade em Cristo, não em tecnologias e ciências.
A verdade é Cristo, em quem estão escondidos os tesouros da sabedoria. E temos
acesso direto a ele. Não precisamos construir artefatos humanos pata alcançá-lo.
Assim, a passagem da torre de
Babel acaba em Gn 11.10-26, no relato dos descendentes
de Sem. Ao traçar a linhagem de Sem, abençoado por Deus, a Abraão, seu legítimo
herdeiro, o qual se tornará o canal divino de bênção a todas as tribos e nações,
a genealogia, inferencialmente, apresenta a presença graciosa de Deus no seio
da humanidade orgulhosa. No contexto da humanidade rebelde dispersa por Deus,
sobre a face da terra (11.1-9), o Senhor preserva a semente à qual ele se fiou
para ser o seu Deus.
A genealogia de Sem termina
com a promessa do nascimento de Abraão. Sem, em hebraico, significa “nome”.
Ironicamente, os construtores da torre estavam buscando “renome”, porém não
tiveram nomes, e a cidade que construíram recebe o vergonhoso nome de
“Confusão”. Deus dá aos eleitos de Sem um nome perene nesta genealogia e, acima
de tudo, exaltará o nome dos descendentes fiéis de Abraão (ver 12.2).
bibliografia:
THE LABOURS OF TRANSLATION: TOWARDS UTOPIA IN
BRUEGEL’S TOWER OF BABEL. Vytas Narusevicius. WRECK: volume
4, number 1 (2013).
Jonas Madureira.
urbanofobia: http://jonasmadureira.com/2014/12/
Bruce Waltke.
Comentário de Gênesis. Editora cultura cristã, 2003.
Tim Keller. Center church. Doing balanced, gosple-centered
ministry in your city.
Agostinho. Cidade de
Deus.
Vinoth Ramachandra, A
falência dos Deus. Abu
editora.
Egbert Schuurman. Christians in babel
[1] Citado por Wiebe E. Bijker. Of
bicicles, bakelits and bulbs, p. 222.
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