terça-feira, 30 de junho de 2015

Construindo pontes entre a ciência e a religião



Já queria ler este livro algum tempo e finalmente consegui adquiri-lo e, logo, ele entrou na frente na fila de livros. Isso principalmente pelo fato de que irei participar de uma mesa sobre as visões cientificas e Gênesis em um Curso de Férias da Abu (depois procurei relatar como ocorreu esta mesa).
Antes de mais nada, deve-se apontar que o livro é fruto de discussões a partir do Programa de Cursos de Ciência e religião do Center for Theology and the Natural Sciences da Graduate Theological Union, em Berkeley, Califórnia. Portanto, um locus privilegiado para o debate em torno de se constituir um diálogo e uma integração entre ciência e religião. Dentre os autores que compõem o livro, há teólogos, físicos, eticistas, filósofos entre outras formações, que só fazem enriquecer a obra.
Todos os textos orbitam (alguns mais outros menos próximos) em torno da metodologia proposta por Ian Barbour, que, pela importância, deve ser descrita aqui brevemente.
A partir da década de 1960, Barbour esboçou uma metodologia para integrar os campos científico e religioso. A premissa básica era valer-se dos recursos seculares combinados da filosofia da ciência e da filosofia da religião para argumentar contra o reducionismo e argumentar a favor de uma analogia sistemática entre a racionalidade da construção e da verificação teóricas na religião e na ciência. O resultado disso foi chamado “realismo crítico” por Barbour, que delimita uma metodologia por meio da qual as descobertas das ciências e sua interpretação filosófica podem ser introduzidas cuidadosa e criticamente no trabalho contínuo em teologia e, pelo menos em principio, os insights da teologia e da filosofia podem demonstrar ser benéficos para os cientistas. Portanto, a metodologia do realismo crítico serve como uma ponte de mão dupla entre a ciência e a religião.
Tendo isso em mente, os autores partem para uma explicação expandida da metodologia para se construir as pontes entre a religião e a ciência. Em dois capítulos, “ciência e teologia: interação mútua”, escrito por Robert Russell e Kirk Wegter-McNelly e “Construindo pontes entre a teologia e a ciência em uma era pós-moderna", por Nancey Murphy, os autores demonstram possibilidades e limites nessa construção. São capítulos muito interessantes para quem se interessa pelo assunto.
Agora na segunda parte, que engloba 4 capítulos, é que se encontra o núcleo duro do livro, a parte melhor fundamentada e, para mim, mais pertinente. Essa parte, intitulada “Construindo campos científicos” contém capítulos sobre “a lei natural e a ação divina”, “a evolução biológica na ciência e na teologia”, “Genética, teologia e ética” e “a neurociência, a pessoa humana e Deus”. Pelos títulos dos capítulos se percebe a importância dos debates suscitados neles. Além do mais, são capítulos bem escritos e fartamente referenciados, o que auxiliam em muito quem tem interesse em ler mais sobre os assuntos tratados.
A terceira parte, trata de construir campos religiosos e, apesar de ter uma ideia muito interessante, uma vez que procura trazer autores de diferentes religiões, fica um pouco mais enfraquecido do ponto de vista metodológico. Alguns autores, nem todos, escreveram um texto aparentemente dirigido à uma plateia em uma exposição oral, carecendo de informações bibliográficas e possibilidades.

Enfim, achei o livro muito importante para todo cristão que tem interesse nas áreas cientificas ou teológicas. Portanto, fundamental para teólogos, professores, cientistas e para todos que querem se aprofundar nesse debate. Debate aliás, muitas vezes negligenciado em nossas igrejas e universidades. 

obs: a própria co-edição entre uma editora universitária e uma editora católica, aponta o desejo de se construir essas pontes prementes nas sociedade. 
Construindo pontes entre a ciência e a religião. Organizadores: Ted Peters e Gaymon Bennet Editora Unesp e Edições Loyola, 2003.

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