Já queria ler este livro algum tempo e finalmente consegui adquiri-lo
e, logo, ele entrou na frente na fila de livros. Isso principalmente pelo fato
de que irei participar de uma mesa sobre as visões cientificas e Gênesis em um Curso
de Férias da Abu (depois procurei relatar como ocorreu esta mesa).
Antes de mais nada, deve-se apontar que o livro é fruto de
discussões a partir do Programa de Cursos de Ciência e religião do Center for
Theology and the Natural Sciences da Graduate Theological Union, em Berkeley,
Califórnia. Portanto, um locus privilegiado para o debate em torno de se
constituir um diálogo e uma integração entre ciência e religião. Dentre os
autores que compõem o livro, há teólogos, físicos, eticistas, filósofos entre
outras formações, que só fazem enriquecer a obra.
Todos os textos orbitam (alguns mais outros menos próximos) em
torno da metodologia proposta por Ian Barbour, que, pela importância, deve ser
descrita aqui brevemente.
A partir da década de 1960, Barbour esboçou uma
metodologia para integrar os campos científico e religioso. A premissa básica
era valer-se dos recursos seculares combinados da filosofia da ciência e da
filosofia da religião para argumentar contra o reducionismo e argumentar a
favor de uma analogia sistemática entre a racionalidade da construção e da
verificação teóricas na religião e na ciência. O resultado disso foi chamado “realismo
crítico” por Barbour, que delimita uma metodologia por meio da qual as
descobertas das ciências e sua interpretação filosófica podem ser introduzidas
cuidadosa e criticamente no trabalho contínuo em teologia e, pelo menos em
principio, os insights da teologia e da filosofia podem demonstrar ser
benéficos para os cientistas. Portanto, a metodologia do realismo crítico serve
como uma ponte de mão dupla entre a ciência e a religião.
Tendo isso em mente, os autores partem para uma explicação
expandida da metodologia para se construir as pontes entre a religião e a
ciência. Em dois capítulos, “ciência e teologia: interação mútua”, escrito por
Robert Russell e Kirk Wegter-McNelly e “Construindo pontes entre a teologia e a
ciência em uma era pós-moderna", por Nancey Murphy, os autores demonstram
possibilidades e limites nessa construção. São capítulos muito interessantes
para quem se interessa pelo assunto.
Agora na segunda parte, que engloba 4 capítulos, é que se
encontra o núcleo duro do livro, a parte melhor fundamentada e, para mim, mais pertinente. Essa parte,
intitulada “Construindo campos científicos” contém capítulos sobre “a lei
natural e a ação divina”, “a evolução biológica na ciência e na teologia”, “Genética,
teologia e ética” e “a neurociência, a pessoa humana e Deus”. Pelos títulos dos
capítulos se percebe a importância dos debates suscitados neles. Além do mais,
são capítulos bem escritos e fartamente referenciados, o que auxiliam em muito
quem tem interesse em ler mais sobre os assuntos tratados.
A terceira parte, trata de construir campos religiosos e,
apesar de ter uma ideia muito interessante, uma vez que procura trazer autores
de diferentes religiões, fica um pouco mais enfraquecido do ponto de vista metodológico.
Alguns autores, nem todos, escreveram um texto aparentemente dirigido à uma plateia
em uma exposição oral, carecendo de informações bibliográficas e
possibilidades.
Enfim, achei o livro muito importante para todo cristão que
tem interesse nas áreas cientificas ou teológicas. Portanto, fundamental para
teólogos, professores, cientistas e para todos que querem se aprofundar nesse
debate. Debate aliás, muitas vezes negligenciado em nossas igrejas e
universidades.
obs: a própria co-edição entre uma editora universitária e uma editora católica, aponta o desejo de se construir essas pontes prementes nas sociedade.
Construindo pontes entre a ciência e a religião. Organizadores: Ted Peters e Gaymon Bennet Editora Unesp e Edições Loyola, 2003.
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