domingo, 29 de novembro de 2015

C. S. Lewis e a abolição do homem


Clive Staples Lewis (1898-1963), nascido na Irlanda, foi um autor cristão que escreveu sobre uma variedade gama de assuntos. Muito menos contido que seu colega Tolkien, Clive esboçou opiniões de diversas maneiras: escritos “diretos” (Cristianismo Puro e Simples e A abolição do Homem), ficcionais (As crônicas de Nárnia e Trilogia Cósmica), metafóricos (Till we have faces, O grande abismo) entre outros (Cartas à Malcom, Cartas de um diabo a seu aprendiz).
Lewis, como alguém que viveu em um período em que a ciência e a tecnologia havia se tornado fundamental no dia a dia, não poderia ter deixado de dar suas impressões sobre esses temas.
É o caso de “A abolição do Homem”, escrito em 1943, justamente no meio da Segunda Guerra Mundial; guerra que o Reino Unido participava ativamente. Por volta deste período, Lewis falou sobre temas religiosos em muitos programas transmitidos pela BBC de Londres. A maior parte destas falas foi transformada no livro “Cristianismo puro e simples”.
As ideologias científicas por trás da guerra, a utilização de pesquisas científicas e a tecnologia empregada no fortalecimento armamentista aparecem como temas nos escritos de Lewis. Algumas vezes não muito evidentes.
“A abolição do homem”, que possui o subtítulo “reflexões na educação com referência especial ao ensino de Inglês nas últimas séries”, demonstra a preocupação com o que se ensinava nas escolas britânicas, principalmente no que se referia aos valores objetivos e a lei natural, o que Lewis se esforça em defender.
Lewis argumenta que de fato existem valores objetivos: a ação de um indivíduo pode ser objetivamente boa ou má. Segundo ele, há um conjunto de valores objetivos que tem sido compartilhado, com poucas diferenças, por cada cultura. Sem esses valores, nenhum julgamento de valor pode ser feito.
Ao final deste curto, mas provocante, livro, Lewis fala que a consequência desse abandono conduzirá até a abolição do homem, uma vez que sem valores não se poderá reconhecer o que resta de humanidade.
Interessante também é a crítica transversal acerca da atuação do homem face à ciência e à natureza. Lewis se questionava em que sentido o homem possui um poder crescente sobre a natureza. Segundo ele, “o que existe é um poder que alguns homens possuem, e que por sua vez podem ou não delegar ao resto dos homens. Sob esse ponto de vista, o que chamamos de poder do Homem sobre a Natureza se revela como um poder exercido por alguns homens sobre outros, com a Natureza como instrumento.” Esta conquista, assim, significa o controle por algumas centenas de homens do destino de bilhões.
Para Lewis, essa busca por controle e poder é o grande mal por trás da ciência em sua época.
Na Trilogia Cósmica, Lewis trata exatamente deste tema da busca por controle da natureza através da ciência e da tecnologia. Inclusive, uma argumentação sempre presente nessa série, é o cientificismo, a ideia de que a ciência pode explicar tudo e o tecno-determinismo, por meio do qual a sociedade segue inextrincavelmente o caminho demarcado pela tecnologia.
O personagem principal dessa série de livros, Elwin Ransom (sobrenome que pertinentemente significa “resgate”) é um teísta que abraça valores como piedade, caridade, honestidade e respeito por indivíduos. Em contraste, o vilão professor Weston é um brilhante físico que acredita que não há verdades absolutas. Weston esta disposto a sacrificar qualquer um ou qualquer coisa para atingir seu objetivo de propagar a vida humana em outras partes do universo. Claro que podemos dar uma colher de chá ao autor por essa dicotomia maniqueísta, mas o ponto afirmado é o da luta entre duas concepções de mundo opostas.
Lewis nos atrai, como cristãos, a participar intelectualmente no debate cientifico de nossa época. Será que o cristianismo tem algo a oferecer no campo das ideias para a filosofia da ciência? A resposta de Lewis é um retumbante “sim”, inclusive chegando ao ponto de alegar que a ciência, livre das concepções cristãs, sucumbirá eticamente. As novas biotecnologias estão aí para testar essa hipótese. Serão as modernas tecnologias capazes de abolir o homem em prol do desenvolvimento e do progresso científico?


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