segunda-feira, 4 de julho de 2016

O Cristão e a universidade



Hoje enfrentamos uma polarização muito grande de pensamentos e isto se apresenta de forma mais exagerada nas universidades. As universidades, em sua origem, nascidas dentro de uma concepção cristã, de exploração de ideias, tem se tornado bastiões de posições radicais, sem a possibilidade de diálogo. O que vemos na cultura ocidental é um abandono por parte dos cristãos dos debates intelectuais produzidos na academia. A universidade se tornou uma babilônia, uma cultura de incredulidade e que, conduzida sobre a justificativa de secularização e laicidade, tem se tornado cada vez mais árida.
Mesmo assim, penso que a maneira de lidar com o aparente esvaziamento intelectual das universidades não seja através da proibição de que professores expressem suas opiniões políticas/religiosas/ideológicas. Penso que o cristão tem a obrigação fundamental de tomar posições nessas universidades, de raciocinar e de produzir conhecimento. Isso não necessariamente conduz à produção unicamente do que muitos consideram temas cristãos”, mas sim, por exemplo, de uma ciência natural que seja feita para a glória de Deus.
Minha proposta é examinar algumas passagens bíblicas que nos dão baliza de como se comportar na cultura universitária atual.
Começo nossa exploração com o primeiro capítulo do livro do livro de Daniel.

Daniel 1:1-6 (Almeida corriga e revisada fiel)
No ano terceiro do reinado de Jeoiaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei de babilônia, a Jerusalém, e a sitiou.
E o Senhor entregou nas suas mãos a Jeoiaquim, rei de Judá, e uma parte dos utensílios da casa de Deus, e ele os levou para a terra de Sinar, para a casa do seu deus, e pôs os utensílios na casa do tesouro do seu deus.
E disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real e dos príncipes,
Jovens em quem não houvesse defeito algum, de boa aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e doutos em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus.
E o rei lhes determinou a porção diária, das iguarias do rei, e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, para que no fim destes pudessem estar diante do rei.
E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias;


Muitas pessoas que leram esses versículos não perceberam o que esses jovens hebreus estavam fazendo na corte de Nabucodonosor. Eles estavam ali para estudar na academia real da Babilônia. Eles eram, como muitos de vocês, estudantes universitários!
A experiência de Daniel é, em vários aspectos, muito semelhante com a experiência dos cristãos hoje. Os estudantes cristãos em universidades seculares (e também em religiosas) se sentem muitas vezes exilados em uma terra estranha e hostil. Daniel, Hananias, Misael e Azarias foram hábeis em aprender o conhecimento dos babilônicos sem comprometer suas concepções doutrinárias ou morais. Eles foram capazes de, ao estudar na Universidade da Babilônia, manter sua fé intacta e aprender mais do que todos os seus colegas. Assim, esta história nos serve de exemplo para nosso comportamento hoje.
Os versos iniciais do livro de Daniel demonstram como o rei babilônico guerreou contra Jerusalém, tomou suas cidades principais, capturou o rei, profanou o templo sagrado e ofereceu os santos utensílios do templo em favor do falso deus Marduk. Nabucodonosor era opressor e cruel. A babilônia estava em tal inimizade com Deus que isto se tornou um tipo e um prenúncio do reino do Anticristo (Apocalipse 18).
Ainda assim, o rei comandou que se trouxessem alguns jovens de Israel, de boa aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e doutos em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus.

Aqui vemos alguns pré-requisitos acadêmicos para esses jovens (v.4):
       Instruídos em toda a sabedoria: isto é, possuindo habilidades acadêmicas e técnicas necessárias para um aprendizado avançado. Se tornar instruído na cultura antiga significava dominar processos, assim como acumular conhecimento. Habilidades como ler, escrever, administrar, ensinar, e resolver problemas envolve uma ginastica mental altamente especifica sobre a qual a educação se firma e se desenvolve. Seria o ensino básico e fundamental.
       Doutos em ciência: isto é, que eles já possuíssem algum conhecimento que deve servir de base para estudos posteriores. Precisamos de uma boa base em matemática, física, química, história, português para aproveitar melhor a universidade. O mesmo servia para estes jovens que estavam sendo convocados para a universidade da babilônia. O conhecimento é algo que se acumula. Devemos olhar para o conhecimento do passado para construir novos conhecimentos. Aqui esse nível seria comparável com o ensino médio.
       Entendidos no conhecimento: isto é, capaz de assimilar intelectualmente o material que lhes era apresentado. Entender a faculdade de síntese, de colocar junto fatos que são apreendidos e habilidades que são dominadas, relacionando umas com as outras e discernindo suas implicações. Não é preciso ser um gênio para perceber que em nossa sociedade temos uma grande dificuldade de “entendimento/compreensão”. Somos a sociedade da informação, mas não possuímos conhecimento. O cristão, assim como Daniel e seus amigos, tem um papel fundamental em “entender” as ideias que lhes são apresentadas e sintetizar o conhecimento. Como se tivessem passado por um curso preparatórioe de aprofundamento domquemaprendeu até então.
       que tivessem habilidade para assistirem, isto é, para servirem. Isto significa ter a motivação necessária e a habilidade social para servir aos outros. Se tornar instruído não é somente uma questão de auto-realização, mas, seu propósito final, é o que as escrituras nos relembram: serviço. A educação abre importantes e influentes esferas de serviço – curar os doentes, alimentar os famintos, reparar famílias, reconstruir a moralidade, reformar a sociedade; isto faz parte do chamado cristão.

Assim, Nabucodonosor dá uma bolsa de estudospara esses hebreus estudarem por três anos e ao final desse período se apresentarem perante o rei.

s normalmente pensamos nas modernas universidades como sendo não-cristãs, mas, perto da babilônia, elas são locais agradáveis de se estar. Apesar de negarem o pensamento ocidental, as universidades atuais possuem toda a sua base em uma cosmovisão cristã, mesmo que atualmente tendam a se afastar dela. Daniel, entretanto, quase não podia ler uma placa cuneiforme sem alguma referência a divindades pagãs e mitologia. Os babilônicos eram mestres em matemática, astrologia, engenharia e administração, mas até mesmo as descobertas nesses campos eram mitologizados”.
Entretanto, como a escritura diz, no versículo 4 de nossa passagem, a literatura e a língua” era ainda assim útil de se aprender. Não deveria haver nenhuma objeção para o estudo por um cristão de um campo legítimo do pensamento contemporâneo (o que, apesar de todos os seus problemas, provavelmente é menos povoado de erros do que aquele dos caldeus).
Naturalmente, há certos problemas para o cristão em tais ambientes. Nem bem os quatro hebreus chegaram na corte eles encontraram uma questão que parece que poderia por em risco todo o empreendimento. Em Daniel 1:18 diz:

E Daniel propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não se contaminar.

É interessante que o conflito que as Escrituras registram não é sobre grandes questões de cosmovisão – não um debate sobre os méritos do mito da criação babilônico contra a versão de Gênesis – nem sobre aspectos morais, como os quatro rejeitando o principio de prostituição cúltica como um meio de adoração. Ao invés, o problema se refere a uma coisa que parece uma mera questão técnica, tão pequena e tão difícil de explicar.
O rei estava honrando os jovens com comida de sua própria mesa. Porém, era uma comida que não estava de acordo com as leis da dieta mosaica. Mas como Daniel poderia explicar isso para os babilônicos? Ele poderia parecer arrogante, intolerante e insultar seu beneficiário. Mesmo assim, Daniel adotou um principio que é essencial para aqueles que tentam seguir Deus em um ambiente hostil ou indiferente: ele não comprometeu sua obediência à Palavra de Deus.
Por que os quatro amigos rejeitaram a mesa do rei? A atmosfera da corte sem dúvida deixou eles desconfortáveis. Os judeus não eram proibidos de tomar vinhos, mas Daniel enxergou o vinho do rei como algo contaminado. Não há duvidas de que a corte babilônica, assim como os campus universitários, era um lugar de intoxicação geral, onde bebedeiras, hedonismos e luxúria eram aceitos como normais.
s cristãos geralmente nos deparamos com a mesma atmosfera. Podemos estar prontos para explicar os princípios do teísmo bíblico ou para falar sobre as bases da salvação, mas quando se enfrenta a oferta de drogas, ou de negar ir à bebedeiras, ou a ver certos tipos de filmes, ou de se negar a ir a certas festas, os argumentos parecem ser mais difíceis. Um cristão, assim como Daniel, deve se negar a comprometer a fé mesmo nos menores detalhes doutrinários ou princípios morais.
 Apesar disso, Daniel buscou resolver o dilema sem comprometer seus princípios: portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não se contaminar.Daniel abordou as autoridades pagãs com cortesia e humildade.
Resultado: Ora, Deus fez com que Daniel achasse graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos. (Daniel 1:9). O professor mais hostil pode ser suavizado através da ação de Deus.
Na sequência, outra questão surge, em Daniel 1.10-16:

E disse o chefe dos eunucos a Daniel: Tenho medo do meu senhor, o rei, que determinou a vossa comida e a vossa bebida; pois por que veria ele os vossos rostos mais tristes do que os dos outros jovens da vossa idade? Assim porias em perigo a minha cabeça para com o rei.Então disse Daniel ao despenseiro a quem o chefe dos eunucos havia constituído sobre Daniel, Hananias, Misael e Azarias:Experimenta, peço-te, os teus servos dez dias, e que se nos dêem legumes a comer, e água a beber.
Então se examine diante de ti a nossa aparência, e a aparência dos jovens que comem a porção das iguarias do rei; e, conforme vires, procederás para com os teus servos.E ele consentiu isto, e os experimentou dez dias.E, ao fim dos dez dias, apareceram os seus semblantes melhores, e eles estavam mais gordos de carne do que todos os jovens que comiam das iguarias do rei.Assim o despenseiro tirou-lhes a porção das iguarias, e o vinho de que deviam beber, e lhes dava legumes.

Daniel não podia, pelas leis judaicas, comer a carne e outros alimentos que eram preparados de maneira diferente às propostas nas Escrituras. Através de humildade Daniel pede ao chefe dos eunucos que teste eles por um período de tempo com uma dieta vegetariana. Milagrosamente Deus supriu as necessidades nutricionais e os quatro amigos pareceram melhores tratados do que os que consumiam a dieta babilônica.
Daniel e seus três amigos escolheram não se contaminar com as tentações da cultura babilônica.

Ao final dos 3 anos, os quatro são postos a teste perante o rei (vs 17-20). A hora de apresentar o TCC:
17Quanto a estes quatro jovens, Deus lhes deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras, e sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em toda a visão e sonhos.18E ao fim dos dias, em que o rei tinha falado que os trouxessem, o chefe dos eunucos os trouxe diante de Nabucodonosor.19E o rei falou com eles; entre todos eles não foram achados outros tais como Daniel, Hananias, Misael e Azarias; portanto ficaram assistindo diante do rei.20E em toda a matéria de sabedoria e de discernimento, sobre o que o rei lhes perguntou, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos astrólogos que havia em todo o seu reino. 

Aqui vemos que o cristão, seguindo as leis de Deus, pode superar as dificuldades acadêmicas e pode inclusive alcançar altos padrões acadêmicos. Contanto que ele se esforce!
Um exemplo de maneira prática que o cristão pode contornar trabalhos sobre temas que vão de encontro à sua fé é questionar as bases do trabalho. Não se deve negar a fazer um trabalho, mas sim, procurar apresentar o que se pede e possíveis críticas ao texto. O cristão tem uma responsabilidade grande, pois deve pesar tudo o que se lê, retendo o que é bom (Ecl 11.1) e tecer críticas à posições contrárias a sua fé.
Tudo isso deve ser feito com sabedoria, respeitando a autoridade do professor. Algumas vezes o momento é de somente ouvir e não falar; talvez procurar conversar com o professor pessoalmente sobre algo que vai contra seus princípios.

Dez vezes mais doutos.
O resultado dos três anos na Universidade da Babilônia:
Quanto a estes quatro jovens, Deus lhes deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras, e sabedoria.” (1.17)
Deus deu a eles conhecimento e inteligência. Aqui a blia demonstra claramente que a busca por realizações acadêmicas não é somente bem-vista por Deus como ele até capacita aqueles que o seguem.
            “Em todas as letras e sabedoria” está sob o reino e as dádivas de Deus, portanto, sanciona todo o conhecimento humano. Nada Deus proíbe de se aprender na terra, desde que esteja sob a ótica da eternidade. E lembrando que aqui em nossa passagem fica ainda mais forte se nos lembrarmos que a Bíblia está se referindo ao conhecimento da Babilônia, uma cultura com certeza mais ignorante de Deus do que qualquer universidade moderna, que, como parte da tradição intelectual ocidental, ao menos tem sua origem em uma cosmovisão bíblica.
            De fato, olha que impressionante, o conhecimento do Deus verdadeiro e de sua Palavra deu aos quatro jovens uma enorme vantagem sobre os intelectuais babilônicos.
20”E em toda a matéria de sabedoria e de discernimento, sobre o que o rei lhes perguntou, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos astrólogos que havia em todo o seu reino.

            Os babilônicos eram brilhantes e tinham muitas realizações cientificas e matemáticas, mas sua cosmovisão errônea e suas superstições pagãs eram um obstáculo real para a busca pela verdade.
            Isto é semelhante ao que aconteceu na Idade Média: a cosmovisão cristã favoreceu o surgimento da ciência, uma vez que não acreditava que a natureza era sagrada em si; outras religiões deificam a natureza e portanto, ela não podia ser estudada ou era dificultada; também a visão de que Deus estabeleceu um universo racional, que possuía leis que podem ser descobertas, proporcionou a que o ocidente ultrapassasse o oriente em questões de ciência e tecnologia.
            Então, tenho certeza que os cristãos contemporâneos têm toda a capacidade de confrontar o pensamento secular e a estudá-lo e serem bem sucedidos em influenciar as modernas universidades da babilônia.
            De fato, enfrentamos hoje o mesmo problema que os cristãos medievais enfrentaram: como conciliar as verdades do evangelho com a sabedoria “secular”? Foi a solução para esse problema que resultou em um grande avanço para a sociedade medieval européia. Foi nos centros de estudo cristãos medievais que nasceram a tecnologia e a filosofia que nós hoje somos herdeiros. E fizeram isso construindo sobre alguns elementos pagãos.
            O problema é que, desde principalmente o século XIX, o antiintelectualismo reina no meio evangélico. Abandonamos os campos científicos e deixamos aos ateus. Resultado: antes éramos aqueles que conduziam as descobertas científicas e propúnhamos reformas, agora nos retiramos do mundo e reclamamos quando cientistas e governos propõem reformas que vão contra nossas posições. Devemos lembrar da oração de Jesus: estejam no mundo, mas não sejam do mundo (Jo 17.15-18). Devíamos influenciar o mundo, mas não ser influenciado pelo mundo.            
A bíblia é muito rica em exemplos de pessoas que foram altamente educadas no conhecimento de sua época e ao mesmo tempo foram heróis da fé. Muitas vezes ignoramos isso.
Moisés era “instruído em toda a ciência dos egípcios; e era poderoso em suas palavras e obras.(Atos 7:22)
            Paulo: Quanto a mim, sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zelador de Deus, como todos vós hoje sois.(Atos 22:3)
            A cidade natal de Paulo, Tarso, era famosa por sua universidade. Devido ao seu conhecimento de Grego, incluindo citações de peças teatrais gregas e seu frequente emprego de retórica clássica, Paulo tinha bom conhecimento do pensamento grego e romano.

            Mas também tem outra frase (e suas variações) na bíblia que me intriga muito e nos ajuda a pensar em nosso papel na universidade:
            Vejamos em 1 Crônicas 12:32:
E dos filhos de Issacar, duzentos de seus chefes, destros na ciência dos tempos, para saberem o que Israel devia fazer, e todos os seus irmãos seguiam suas ordens.    


"Destros na ciência dos tempos"!
Acho muito interessante esta passagem porque aponta para a importância que alguns indivíduos com habilidades específicas possuíam: eles conheciam o que se deveria fazer analisando sua época. Aqui trata-se não somente de tempos no sentido de clima e temperatura, mas também de tempos políticos. Eles entendiam dos negócios públicos, a temperatura da nação, e as tendências dos tempos presentes. Que responsabilidade!
E os da tribo de Issacar faziam parte do exército de Davi. Já ouviram aquela frase: a vitória de um exército depende dos conselheiros? (Proverbios 24.6). É isto o que Davi seguia.

Também temos uma frase semelhante em Ester 1:13
“Então perguntou o rei aos sábios que entendiam dos tempos (porque assim se tratavam os negócios do rei na presença de todos os que sabiam a lei e o direito;



Os cristãos hoje, como conhecedores da verdade, têm a responsabilidade de entender os tempos. Devemos colocar nosso conhecimento a serviço das ciências. Nas áreas de ciências naturais, humanas, biológicas, engenharias, artes, política, podemos dar importantes contribuições.
Mais uma vez eu relembro sobre o impacto que os cristãos tiveram no início da ciência moderna: sua concepção de um criador foi o que tornou possível a descoberta de uma série de leis naturais.
Também é possível, pela graça comum, que o mundo, ainda que distante de Deus produza obras que apontem para a verdade. Cabe a nós apontarmos os erros e construirmos conhecimento conjuntamente. Como temos visto neste texto, o estudo de obras intelectuais do mundo é proveitosa.
Durante a Idade Média, Basílio de Cesaréia escreveu um livro chamado cartas aos jovens sobre a utilidade da literatura pagã”, onde ele aconselha:

"Se há alguma afinidade entre as ciências sagradas dos livros santos com aquelas dos autores profanos, isto nos será vantajoso conhecer." 
Durante um período em que a Igreja se viu soterrada pelas invasões bárbaras e por paganismos de toda espécie, um padre católico aconselhou a ler de tudo, e que isto é proveitoso. E tem gente hoje com medo de ler Marx!
Acho importantíssimo o mandamento dado por Cristo que temos esquecido ultimamente; ou cumprido em partes:
Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.” (Marcos 12:30).

Quantos de nós temos cultivado esse mandamento? Amar a Deus de todo o meu entendimento compreende uma esfera racional; além da Palavra de Deus, ler livros, tanto de teologia quanto em geral. Ler e estudar amplia nosso conhecimento. Temos que retomar os campos intelectuais, redimir as várias ciências. Não faremos isso com obscurantismo, intolerância e fanatismo. Precisamos conversar com o mundo.
Amar a Deus de toda a nossa mente, de todo o nosso entendimento pressupõe que usemos toda a nossa capacidade intelectual para glorificar a Deus. Isso significa sermos matemáticos, administradores, historiadores, filósofos, cientistas, engenheiros, artistas, políticos...
Jovens na universidade tem como mandamento amar a Deus com o seu intelecto. Isso ocorre, quando se estuda, se esforça e também quando procura estabelecer pontes entre o que se aprende com a verdade da Palavra de Deus. Como conciliar história, administração, física, biologia, engenharia, matemática com a Bíblia? Esse é o papel do jovem cristão nas universidades de hoje.
Como zumbis, a intelectualidade secular pós-moderna quer comer nosso cérebros, deixando-nos acéfalos; então nós também, transformados em zumbis, vamos à caça de mais cérebros que nos sustentem, somente para descobrir que nada mais pode nos sustentar; à não ser o verdadeiro conhecimento. Daí retornamos ou à Cristo ou caímos num abismo niilista.
Outra dica de algo que ocorre na passagem de Daniel 1 pode servir de exemplo para nós: ter amigos cristãos na universidade. Como a Universidade da babilônia, as universidades hoje são centros de perdição: bebedeiras, escárnio com o cristianismo, enfim ateísmo. Encontrar amigos que se ajudam pode ser um ponto de apoio. 
Durante minha graduação tive poucos amigos cristãos e estes foram fundamentais. Entretanto, também não acho que devemos nos afastar das pessoas do mundo. O exemplo que podemos dar e as conversas podem ser enriquecedoras. Tive e tenho amigos ateus cuja amizade prezo muito. Pessoas de diferentes contextos nos ajudam a ter uma visão crítica de nossa própria cosmovisão nos fazendo aperfeiçoar nossa vida intelectual. Mas os amigos cristãos são aqueles que nos ajudam a aprofundar mais. "Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia seu amigo (Pv 27:17).
Fui participar da Aliança Bíblica Universitária somente quando estava no doutorado, e ela foi um ponto fundamental de convivência da minha fé com questões intelectuais. O espaço proporcionado para falar sobre ciência e fé, política e outros assuntos é muito difícil de se encontrar nas igrejas. Pela minha própria experiência, aconselho a se buscar grupos semelhantes.
“Crer é também pensar”, uma frase cara à ABU, aponta para uma vida que encontra tanto o lado espiritual quanto o lado intelectual. 
            Mas antes mesmo de entrar na Abu descobri o sentido de que temos, enquanto cristãos, uma missão cultural de redimir todas as esferas da criação. Isso sinalizou ir além da dicotomia simplista de sagrado-profano. Para o cristão, nenhuma atividade sua está excluída da presença de Deus. Ele veio para nos resgatar por inteiro. 

 Abraham Kuyper falou: “Na extensão total da vida humana não há nenhum centímetro quadrado acerca do qual Cristo, que é o único soberano, não declare: Isto é meu!”.
            Kuyper foi um neocalvinista que reformou o pensamento universitário de sua época. Ele além de ter fundado um jornal e um partido político com a cosmovisão cristã, fundou a Universidade Livre de Amsterdã, até hoje a maior universidade holandesa. Cada andar do prédio da universidade era composto por um curso e no topo, a teologia, apontando como o cristianismo podia dialogar com todas as outras disciplinas.


Algumas dicas básicas de como se comportar na universidade, por Pedro Franco.[1]
1) Busque a Deus, pois é Ele quem te sustenta e guarda do mal.
2) Converse com cristãos mais velhos, que sejam referências na sua vida, sobre os problemas que você tem enfrentado.
3) Não se isole, mas não se misture demais.
4) Dê o seu melhor na faculdade e, assim, glorifique a Deus.
5) Defenda a sua fé, mas seja sábio. Esteja sempre aprofundando seu conhecimento sobre a fé cristã.
6) Gaste seu tempo com sabedoria. Não fique demais na internet.


Soli Deo Gloria



Gene Edward Veith Jr. De todo o teu entendimento. Cultura Cristã, 2006. 

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