quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Breves comentários sobre o plano de governo de Bolsonaro/ PSL


Bolsonaro

Parece um trabalho escolar, em formato de power point.

[os números no começo das frases indicam a página no plano: 
https://static.cdn.pleno.news/2018/08/Jair-Bolsonaro-proposta_PSC.pdf]

Alguns pontos principais: 

2. uma crise ética, moral e fiscal.
4. defesa da propriedade privada
4. família e não interferência do Estado
5. progressista? “Liberdade para as pessoas, individualmente, poderem fazer suas escolhas afetivas, políticas, econômicas ou espirituais.”
uma Nação fraterna e humana, com menos excluídos, é mais forte”.

Enquanto o projeto do PT fala em nova constituição, marcos regulatórios e controle social, o projeto de Bolsonaro fala em seguir a constituição e respeitar direitos. Talvez pela sua fama em se posicionar à favor de ditadura, tenha-se querido amenizar isso no plano:

6. “obediência à Constituição, Assim, NOVAMENTE, ressaltamos que faremos tudo na forma da Lei!”
11. ênfase em seguir à lei e respeitar a constituição, que tem sido desrespeitada e “rasgada”.
15. “As leis e, em destaque, Nossa Constituição serão nossos instrumentos! Ninguém será perseguido, todos terão seus direitos respeitados. Todavia, investigações não serão mais atrapalhadas ou barradas.”

Democracia:
7. imprensa livre e independente, sem controle ou regulamentação

Visão do próximo: “Devemos ser fraternos! Ter compaixão com o próximo. Precisamos construir uma sociedade que estenda a mão aos que caírem. Escolhas erradas ou tropeços fazem parte da vida. Ajudar o próximo a se levantar nos diferencia como humanos.”
Um discurso que deveria estar mais presente na fala do candidato para além do papel.

Crítica à esquerda: achei uma crítica rasteira, utilização de termos não precisos que, ao mesmo tempo em que congrega algumas visões de direita, também colabora para afastamento de grupos menos extremistas (termos como marxismo cultural tem seu equivalente na esquerda como neoliberalismo, por exemplo):
8. “Nos últimos 30 anos o marxismo cultural e suas derivações como o gramscismo, se uniu às oligarquias corruptas para minar os valores da Nação e da família brasileira.”


Visão econômica e de direita:
8. Governo liberal; sendo “liberalismo econômico” um tópico destacado (p. 13).
Fala-se que vai adotar esse modelo econômico, mas não há aprofundamento em como será conduzido isso na prática.

Alguns tópicos um tanto quanto utópicos:
5. “livre do crime, da corrupção e de ideologias perversas, haverá estabilidade, riqueza e oportunidades para todos tentarem buscar a felicidade da forma que acharem melhor.”
15. “O Brasil passará por uma rápida transformação cultural, onde a impunidade, a corrupção, o crime, a “vantagem”, a esperteza, deixarão de ser aceitos como parte de nossa identidade nacional, POIS NÃO MAIS ENCONTRARÃO GUARIDA NO GOVERNO.”
Apesar de concordar que o Brasil precise de uma transformação cultural, não entendo que isso ocorra de forma rápida nem tão facilmente.

Com o item “Mais Brasil, menos Brasília” parece-se que se quer descentralizar e desburocratizar os investimentos públicos:
p. 19: “Os recursos devem estar próximos das pessoas: serão liberados automaticamente e sem intermediários para os prefeitos e governadores. As obras e serviços públicos serão mais baratos e com maior controle social.”
Aqui, aparece o termo “controle social”, que também aparece no plano do PT, mas que, na minha opinião, parece mais relacionado à participação popular mesmo na fiscalização. Porém, achei que se trata de mais um desejo do que algo possível de se fazer no curto prazo.

Educação:
22. “dar um salto de qualidade na educação com ênfase na infantil, básica e técnica, sem doutrinar.”
Teor de debate da direita. Mas não especifica muito em como vai acontecer esse salto de qualidade. Muito superficial.
41. “SEM DOUTRINAÇÃO E SEXUALIZAÇÃO PRECOCE. Além disso, a prioridade inicial precisa ser a educação básica e o ensino médio / técnico.”
É um tema complicado, porque é difícil se estabelecer o que é doutrinação. Acho que se devia fortalecer a educação e não proibir/ coagir o professor. Há toda uma discussão sobre “escola sem partido” em outros lugares, e eu não concordo. Se houver uma boa educação, crítica e participação dos pais, não é um professor que pode “inculcar” certas ideias nas crianças. Mas é um debate grande demais pra ser feito aqui, só acho problemático essa visão.
Sobre ensino de sexualidade, também concordo que é algo complicado de se aplicar nos anos iniciais. Isso deve ser de alçada da família. Em minha opinião.
Me preocupa a ênfase no ensino técnico. Não que isso não seja interessante, mas muitas vezes transparece a vontade de formar pessoas o mais rápido possível para o mercado de trabalho, com uma queda de qualidade. Acho que deveria investir mais em ensino superior para qualificação. Fica bem forte um ensino tecnicista, onde o que não for produtiva para o mercado, deve ser descartado.

43-44. A critica aos gastos e mal gerenciamento da educação, que se reflete nas péssimas colocações do Brasil nos índices internacionais é correta, mas não acho que o gasto que temos é suficiente, ainda que mal empregado. 
46. critica Paulo Freire, a forte doutrinação; fala de educação à distancia, mas não aprofunda como seria isso. (Temos outras falas nesse sentido do candidato em outras mídias).


Segurança: se coloca contra a esquerda na questão do armamento e segurança. Apontando dados, mostra que em países e estados governados pela esquerda, existe mais criminalidade; que a esquerda é contra policiais etc. 
  
Temas que são bastante opositoras à esquerda, e que tem apelo à direita: p. 32. Redução de maioridade penal, reformulação do estatuto do desarmamento, tipificação como terrorismo as invasões de propriedades rurais e urbanas, fortalecimento da propriedade privada, endurecimento de penas prisionais, redirecionamento da politica de direitos humanos, priorizando a defesa das vítimas da violências.  
Fortalecimento das forças armadas


Saúde:
Transparece um projeto de pessoas que não tem prática na vida pública. 
Não aparece nada em como ser aplicada na praticas as ideias. A redução dos ministérios, por exemplo, não sei se é a melhor saída. Teriam outras formas de reduzir gasto e ineficiência do que cortar ministérios que muitas vezes são essenciais, como os relacionados à ciência e tecnologia, por exemplo.
Em muitos momentos parece um projeto mal escrito. Por exemplo, no item “linhas de ação”, sub-item “ECONOMIA” se menciona somente: “Emprego, Renda e Equilíbrio Fiscal. oportunidades e trabalho para todos, sem inflação.” Parece algo só jogado.

Economia: se enfatiza que haverá um sistema de renda maior que o bolsa família, inclusive dizendo que este tipo de programa se inspira em pensadores liberais.
Fim do monopólio da Petrobrás.

Termos que aparecem repetidas vezes:
Corrupção: 20.
Esquerda: 10
Privatizações: 10


Vejam, analisei os planos dos candidatos e não sua fala e ações para além desses documentos. Claro que não dá pra basear nosso voto somente no que está dito nestes planos, até porque não depende somente do executivo cumprir o que se promete. Os projetos sempre possuem um tom utópico, de salvação e de conserto de tudo o que está errado. Deve-se também levar em consideração o que o candidato e seu partido fez até o momento. 
Fica evidente que o teor do plano é de se estabelecer contra tudo o que o PT e a esquerda representam.
Tanto que existe um item chamado “o problema é o legado do PT de ineficiência e corrupção”.  
Daí seu apelo à todos que estão mais à direita.
Mas a direita precisa aprofundar o debate, pra não cair num jogo de extremismos em que somente se atacam espantalhos. Não que a esquerda não fez por merecer. O sentimento de acabar com tudo o que a esquerda representa é algo que tem um apelo significativo na direita. Mas a discussão podia crescer e se aprofundar mais, com projetos bem construídos.
Não entrei em questões de economia, porque não tenho conhecimento do assunto.
O projeto pra mim em muitos pontos diverge das falas do candidato, mas ainda assim é bastante genérico e cuja aplicabilidade bastante complicada. 
Transparece um projeto de iniciantes no jogo político, com muitas promessas difíceis de serem cumpridas. Mas isso é algo comum em todos os candidatos. Infelizmente. Os projetos políticos refletem a infantilidade dos debates nessas eleições. 

Teremos anos tenebrosos pela frente, independente de quem ganhar as eleições.  



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