quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O progressista de ontem e o do amanhã - Mark Lilla

Mark Lilla é é professor de humanidades na Universidade de Columbia, liberal americano (de esquerda) e frustrado com o desenvolvimento político da esquerda. Tem outros dois livros publicados no Brasil, "A mente naufragada" e "A mente Imprudente" 

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Em "O Progressista de ontem e o do amanhã", Lilla faz uma autocrítica do partido liberal e mostra que, ao se basear fortemente em política identitária, a esquerda perdeu campo e, especialmente, as eleições em 2016.
Ele é um grande crítico dessa política de identidade, que para ele se metamorfoseou em um projeto de evangelização.
Ainda aponta como as universidades americanas se tornaram antros do liberalismo e de defesas de políticas identitárias, locais onde surgem os guerreiros da justiça social e se criam pseudodisciplinas de identidade. 
Lilla diz que se tem cultivado um modelo "Facebook" de identidade, onde o eu é construído como uma página de internet que construo como marca pessoal, ligada a outros por associações de que posso gostar ou não gostar à vontade.
Um exemplo gritante é o do caso de 2015 citado pelo autor: 
"uma mulher transtornada, presidente da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor, e que se dizia vítima de vários crimes de ódio contra negros, foi exposta pelos próprios pais, que revelaram que ela era branca. Seus detratores ficaram indignados e a mídia de direta explorou o episódio como mais um exemplo de esquerda apatetada. Mas, como dia Lilla, se o modelo de Facebook de identidade estiver correto, seus simpatizantes, e havia muitos, estavam certos ao defendê-la. Se toda identidade é legitimamente uma autoidentificação, não por que essa mulher não pudesse alegar que era qualquer coisa que imaginasse ser." (p. 73)

Concluindo este breve livro, Mark Lilla diz que o mais destrutivo do ponto de vista liberal (de esquerda) é a educação baseada em identidade.
Veja, ele é de esquerda e critica esse tipo de educação, porque, segundo ele, gerou um intensificação  das forças de atomização, que acabou gerando indivíduos despolitizados. Foi um tiro no pé.
Enfim, o próprio fato de Lilla, enquanto liberal, fazer uma critica à esquerda e as políticas identitárias, fez com que ele fosse lido por pessoas de ambos os lados dos espectro político.
A esquerda se descolou da realidade, perdeu contato com quem prometia defender.

O contexto examinado pelo autor, com o pano de fundo do resultado das eleições de 2016 em que Trump se elegeu, é muito semelhante ao contexto brasileiro, onde a esquerda vai amargando uma grande derrota.
Mesmo que não concorde com ele em vários pontos, como em questões de aborto e outras, foi uma leitura muito proveitosa. O livro é escrito em formato ensaístico, sem notas de rodapé (somente algumas explicativas) e bibliografia.


No Brasil falta muito uma autocrítica da esquerda e alguém tão sereno que consiga conversar para além dos flancos de sua linha partidária. Lilla é um bom conselheiro nesse sentido. 

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