sexta-feira, 25 de julho de 2014

Fé, ciência e cosmovisão


Sou historiador. Quando entrei na universidade e mesmo hoje em dia as pessoas me perguntam: como você conseguiu se manter cristão ao longo da faculdade? Era uma coisa que até meus colegas me perguntavam. Como se a fé cristã fosse algo que, com estudo, pudesse ser colocada de lado. Infelizmente, este é o caso de muitos jovens que entram em cursos nas áreas de biologia e ciências humanas. Um amigo meu quando lhe perguntavam se ele não questionou a religião ao estudar história, respondia: "eu questiono os historiadores".
O que vou comentar neste post é algo que na verdade não existe: a guerra entre a ciência e a religião. Ao longo do meu texto vamos perceber que o debate, ou a suposta “guerra”, reside em outro lugar.
          Devemos inicialmente nos questionar se a ciência pode explicar tudo.  A música, a arte, a literatura, podem ser explicadas cientificamente? Quais os limites da ciência?
Vamos olhar para duas questões: Como o cristianismo se relaciona com a descobertas cientificas? E como a cosmovisão cristã vê a natureza do universo e as descobertas cientificas? (Christian apologetics, Douglas Groothius. Excerto em http://www.apologeticalliance.com/blog/)
Um sociólogo do cristianismo, Rodney Stark, argumenta que a cosmovisão cristã medieval proveu uma fonte de recursos intelectuais para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e comércio. Ele argumenta que as conquistas posteriores da Revolução Científica não foram os resultados de "uma erupção do pensamento secular," mas antes eram "o culminar de muitos séculos de progresso sistemático por escolásticos medievais, sustentadas exclusivamente pela invenção cristã do século XII, as universidades. Este desenvolvimento foi enraizado na crença cristã de que a natureza é racionalmente cognoscível e deve ser investigada e usada para o bem comum e da glória de Deus.”
Foi a partir do século XVII que a ciência alcançou, no ocidente cristão, o status que possui hoje. Isso ocorreu durante o que se chamou de Revolução Cientifica, quando novas descobertas foram feitas na fisica, astronomia, matematica e outras ciências.
“Isso se deveu, em parte, à rejeição de algumas das ideias herdadas do Catolicismo romano, no que se referia à natureza, mantidos pela Igreja na base da sua adoção da filosofia aristotélica. Por exemplo, Francis Bacon e Blaise Pascal (ambos cristãos) rejeitaram certas concepções a priori da natureza (fortemente influenciado pelo aristotelismo) para uma abordagem mais experimental/empírica. Bacon desenvolveu uma abordagem indutiva para a ciência (embora ele tenha se envolvido em algumas experiências) e Pascal realizou experiências significativas sobre o vácuo, o comportamento de fluídos, e assim por diante. Outras figuras seminais científicas, como Isaac Newton, Johannes Kepler e Galileu possuiam uma visão de mundo teísta que incentivou o estudo e desenvolvimento da criação. Eles não viam a Bíblia como um inibidor da ciência, mas como sendo compatível com as melhores investigações de natureza.”
Apesar dessa harmonia, claro que houveram discordâncias – apesar de não terem sido no grau que normalmente é apontado. Tres são os campos principais de alguns tropeços e encontrões entre fé e ciência ao longo da história: as idéias de Copérnico, o darwinismo e a idade da terra. Mesmo entre cristãos são pontos de debates, vide evolucionistas cristãos e o debate terra antiga x terra jovem.
Um exemplo principal de discordância mais famoso é o conflito de Galileu com as autoridades da Igreja Católica.

Galileu era um cristão e não via discordância entre a Biblia e a ciência natural. Para Galileu a Biblia não devia ser pressionada para além do que ela queria comunicar. Ele não estava negando a verdade da Biblia, mas sim a sua má interpretação. Portanto, dentro de sua visão de mundo, Galileu trabalhou sobre a teoria copernicana heliocêntrica e a confirmou através de observação telescópica. A igreja se opôs à teoria de Galileu mais na base de seu compromisso com princípios aristotélicos sobre a natureza do que em um conflito entre a Bíblia e as novas descobertas cientificas. Os argumentos cientificos de Galileu ameaçavam também o pensamento filosófico acadadêmico da época.
Era uma época complicada a de Galileu, em que a visão de mundo aristotélica começava a apresentar rachaduras e a Reforma Protestante desafiava a autoridade de Roma. John Lennox, um matemático atual, aponta que a oposição não era meramente intelectual e política. Galileu era, digamos assim, “sem noção”, sem tato. Ele irritou a elite da época escrevendo em italiano, não em latim, para que as pessoas comuns compreendessem o que ele estava dizendo.
Mas, apesar de a Igreja utilizar do poder da Inquisição para calar Galileu, ele nunca foi torturado; e sua prisão domiciliar se deu, na maior parte, em luxuosas residências privadas de amigos dele.[i]
A lição que podemos tirar do caso Galileu é que devemos ser humildes para distinguir o que a Biblia diz e a nossa interpretação dela. Como dizia Agostinho de Hipona em seu comentário a Genesis, 1:41, a 1600 anos atrás:

“Em questões tão obscuras e que se acham muito além de nossa visão, encontramos, nas Sagradas Escrituras, passagens que podem ser interpretadas nas mais diversas formas, sem prejuízo à fé que recebemos. Em tais casos, não devemos nos precipitar e assumir uma posição tão firme sobre um lado que, caso um futuro progresso na busca pela verdade abale essa posição, nós também venhamos a cair com ela.”

A Biblia não é um livro de ciências. Mas também não fala contra a ciência!
Deve-se perceber que a ascensão da ciência no Ocidente é única na história do mundo. Em outras partes, como China, nos países islâmicos, Índia, e Grécia e Roma antigas, houve uma alquimia altamente desenvolvida, mas foi somente na Europa ocidental moderna, que a alquimia se desenvolveu em química. Da mesma maneira, muitas sociedades desenvolveram sistemas elaborados de astrologia, mas somente na Europa ocidental a astrologia se desenvolveu em astronomia.
Muitos autores apontam que o resultado disso foi que o cristianismo possuía uma visão racional do mundo. Deus era visto como racional e assim, criou um universo racional, com leis e estruturas estáveis, esperando pela compreensão humana.
Rodney Stark em “O triunfo do cristianismo”, diz:
“A verdadeira base fundamental para a ascensão do Ocidente foi uma extraordinária fé na razão e no progresso que estava firmemente enraizada na teologia cristã, na crença de que Deus é o criador de um universo racional.”[ii]
            O que pensadores como Galileu, Kepler, Newton fizeram foi abandonar as antigas pretensões platônicas e aristotélicas, que reinavam na Idade Média, e toda especulação a priori sobre quais leis matemáticas deviam prevalecer na natureza. Eles procuraram formular suas teorias acerca do universo baseando-se em evidências. Assim, por exemplo, Galileu apontou seu telescópio para o céu e começou a perceber que as antigas especulações de Aristóteles estavam por cair ao chão.           

Mas, o que é cosmovisão?

O termo significa uma visão de mundo, uma perspectiva sobre a Realidade. Uma cosmovisão é um mapa mental que nos diz como navegar no mundo de maneira efetiva.[iii] Este mapa nos ajuda a dar sentido ao que está certo e errado nos eventos e fenômenos que confrontamos, afetando o modo como conduzimos nossa vida.[iv]
Assim, cabe se perguntar se “uma cosmovisão seria compartilhada inconscientemente por indivíduos ou etnias, inseridas em um contexto histórico específico [por exemplo, a Alemanha na época de Hitler], ou seria construída individualmente a partir de experiências existenciais? [na mesma época de Hitler, Boenhoffer]”[v]Um pouco de cada, talvez?
            O que deve ser posto é que uma cosmovisão não é algo como uma filosofia formal, que exige estudo acadêmico para se elaborar uma. Todos possuímos um conjunto de convicções acerca de como a realidade funciona e como devemos viver, portanto todos temos uma cosmovisão.
            Assim, antes de embarcar nesta viagem do conhecimento cientifico, estabeleçamos alguns pontos de referência. O que uma cosmovisão deve explicar:
1º. Criação: como tudo começou? De onde nós viemos?
2º. Queda: o que deu errado? Qual é a raiz do mal e do sofrimento?
3º. Redenção: o que nós podemos fazer sobre isso? Como o mundo pode ser reajustado novamente?
           
            Vamos ver que não a ciência não procura responder essas perguntas, mas sim uma certa cosmovisão que se apóia, de maneira titubeante, na ciência.
           
O que é ciência? (a busca por uma metodologia cientifica).

Muitos de nós, que passamos pelo ensino médio e pela universidade, tivemos que elaborar trabalhos utilizando uma metodologia cientifica. Quem não se lembra das temíveis normas da ABNT?
            Sem tentar apresentar uma definição categórica do que é ciência, podemos nos aproximar do que diz             Rodney Stark:           
“A ciência é um método utilizado em esforços organizados para formular explicações da natureza, sempre sujeita a modificações e correções através de observações sistemáticas”. Assim, a ciência consiste de dois componentes: teoria e pesquisa. Teoria é o aspecto explicativo da ciência. As teorias científicas são afirmações abstratas sobre como e por que uma parte da natureza (incluindo a vida social humana) se encaixa e funciona.
            A pesquisa cientifica consiste em fazer observações que são relevantes para as previsões e as proibições de uma teoria. Se as observações contradizem o que se tem sido deduzido a partir da teoria, então sabemos que a teoria está errada e deve ser rejeitada ou modificada. Por “esforço organizados”, é
reconhecido que a ciência não é meramente descoberta aleatória. Em vez disso, os cientistas processam os seus esforços de forma sistemática, intencionalmente, e
coletivamente; mesmo os cientistas que trabalham sozinhos não o fazem de forma isolada. Desde os primeiros dias, os cientistas têm redes constituídas e
têm sido muito comunicativos.”[vi]
            Assim, o propósito da observação cientifica é testar uma teoria. Claro que progresso ocorreu fora desta definição de ciência; houve desenvolvimentos através de observação e de tentativas e erros, sem teorias.
Um elemento importante é que a ciência é claramente limitada às declarações sobre a realidade natural e material, limitada aos elementos que são em principio observáveis. Assim, a ciência é incapaz de tratar de assuntos como a existência de Deus ou dos milagres.[vii]
            Assim temos que a ciência explica, mas ela não explica tudo. Ela não é a única fonte da verdade, como alguns alegam. Para citar alguns casos, a filosofia, a literatura, a arte e a música situam-se fora do escopo da ciência. Como a ciência pode dizer se um poema é bom ou ruim, se uma obra de arte é bonita ou feia, se uma música é obra de um gênio ou se é um monte de barulho?
           
O que é fé?

            Fé normalmente é definida em dicionários como “uma crença inquestionável que não necessita de prova ou evidência”. Tudo bem, mas esta é uma definição de dicionário e você nunca vai encontrá-la na Bíblia nem em escritores cristãos. Para os escritores cristãos o uso da palavra “fé” significa a confiança em Deus, porque você está convencido de que ele é confiável.
            A fé é racional, porque nos persuadimos da fidelidade de Deus, porque ele nos dá elementos para acreditar e razões para confiar nele. A bíblia trata dos sinais da ação de Deus na história humana. Quando se trata de fé, nenhum cristão deveria pensar que o conteúdo intelectual de sua fé é separada de um compromisso relacional com Deus.
            O Antigo Testamento geralmente recorre as grandes coisas que Deus tem feito para o seu povo, a fim de lembrá-lo das razões de sua confiança: por exemplo, o Salmo 136 apresenta a criação, a libertação do Egito, a entrega da terra prometida, e o cuidado constante para o seu povo como razões do porque Israel deva manter sua fé em Deus, mesmo em apuros.
            A fé é de fato, um comportamento racional: dado quem Deus é, e as razões que ele deu para confiar nele, é irracional não confiar nele. É verdade que, a fé vai além do que posso confirmar, mas esta é a verdade de todo tipo de fé relacional.
            Outra consideração é que dúvida não é sempre o mesmo que falta de fé. Muitos dos salmos (o salmo 73 é um bom exemplo) expressam uma profunda angústia acerca das misteriosas maneiras de Deus governar o mundo, e podemos dizer que ali ocorrem dúvidas.
            Em meio a esta angústia, no entanto, o salmista mantém firmemente sua lealdade para com Deus. Se procuramos resolver nossas dúvidas, usando a razão assim como as nossas orações – como faz o salmista - nossa fé se torna mais forte. Por outro lado, se por “dúvida” temos uma lealdade dividida ou oscilante, então este tipo de dúvida é perigosa para a fé (como a lealdade dividida é perigosa para um casamento). Esse tipo de dúvida não vem da razão, mas de nossas emoções, e o melhor remédio é o arrependimento e a aproximação de Deus.[viii] 
          Jesus não pregava uma fé desvinculada da razão. De fato, ele resumiu os mandamentos na seguinte frase: “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento” (Mt 22:37, NVI). Para Jesus, o entendimento era chave para que se guardasse a palavra do Reino: na parábola do semeador, Jesus faz a seguinte afirmação: (Mateus 13:19)  “Ouvindo alguém a palavra do reino, e não a entendendo, vem o maligno, e arrebata o que foi semeado no seu coração (...).”
Temos a passagem de 1Pedro 3:15. “estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós”. Pedro nos admoesta a estarmos prontos para darmos explicações racionais sobre nossa fé, fazer apologia da fé. “Apologia” é a palavra grega para “razão”. Em 2 Coríntios 10:4-5 Paulo nos orienta a destruir todo argumento contra a fé cristã:

“Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; Destruindo conselhos, e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo.”.

Esta é a definição de fé cristã, uma fé racional baseada em evidências, e não “uma crença inquestionável que não necessita de prova ou evidência”. Aliás, evidência é algo que não falta acerca da fé cristã, começando na ressurreição de cristo, um dos fatos que se possuem mais evidência no mundo antigo.[ix]
            Assim, a fé Cristã pode muito bem andar abraçada com a ciência. E na verdade foi isso que aconteceu. De fato, analisando a história, podemos afirmar que nunca houve uma coisa como uma Guerra entre ciência e fé.

A trajetória [entrelaçada] da fé e da ciência.

O sociólogo Rodney Stark, em “triunfo do cristianismo”[x], aponta: “A guerra original entre a religião e a ciência nunca aconteceu: o cristianismo não só não impediu a ascensão da ciência, como foi essencial para esta tomar seu lugar. Quanto ao conflito contemporâneo entre religião e ciência, é uma batalha limitada a extremistas. Pelo lado da “ciência”, são ateus militantes, como Richard Dawkins que afirmam que a ciência provou que Deus não existe. Pelo lado da “religião” são fundamentalistas  que afirmam que a Biblia prova que muito da moderna ciência é um absurdo”. Sejamos razoáveis, a ciência possui limites explicativos, e a Bíblia não é um livro de ciências, é a revelação da atuação de Deus na história.
            Os cinco grandes da ciência, Copérnico, Kepler, Galileu, Descartes e Newton eram todos cristãos e não pensavam que suas pesquisas minassem a fé cristã.
            Mark Noll, um historiador americano diz: “Através de mais de 1700 anos, os cristãos têm simplesmente compartilhado as convenções intelectuais de sua época; às vezes eles agiram no sentido de retardar a investigação empírica da natureza; às vezes eles a promoveram (...). O retrato histórico é complexo, e a história ocidental certamente tem testemunhado muito argumento que envolve ciência e religião. Mas a guerra não é simplesmente a melhor metáfora para capturar essa história. Em vez disso, negociação, diálogo, concorrência, soluços cotidianos e trovoadas isoladas são metáforas melhores para descrever o que tem acontecido.”[xi]
            Muitos cristãos hoje em dia têm a ideia de que os processos naturais são sustentados por Deus e que a mente humana pode descobrir como a natureza funciona somente porque Deus fez a mente humana capaz de compreender a natureza. Assim, pensando que Deus criou a natureza e as mentes para compreendê-la, devemos lembrar, como abordou Francis Bacon, que Deus é o autor do livro da natureza assim como autor do livro das escrituras. Os cientistas cristãos e leigos cristãos deve procurar ler estes dois livros sem buscar conflitos, mas conexões e complementações.
            Mesmo assim, muitas vezes, não se trata de somente gritos de lados “científicos” e “religiosos”. O que está em jogo é algo mais, é um cosmovisão, algo que esta por trás das perguntas que os cientistas fazem. Chegamos num ponto fundamental!
            Será a ciência é uma cosmovisão? Ela responde a questões do tipo:
            Como tudo começou? De onde nós viemos?
            O que deu errado? Qual é a raiz do mal e do sofrimento?
            O que nós podemos fazer sobre isso? Como o mundo pode ser reajustado novamente?
         A resposta é não. A ciência não consegue responder a estas questões. Mas quando lemos textos de cientistas como Richard Dawkins (escritor de livros como Deus, um delírio) dizendo que a teoria da evolução prova que não existe Deus, e Stephen Hawkings (o Grande Projeto), apontando que o estudo da cosmologia aponta a não existência de Deus, temos que parar e pensar: mas o que eles estão falando aqui? Não se trata mais de ciência o que eles estão fazendo, mas de filosofia ou contra-teologia. Pois a ciência não tem pretensão de responder se Deus existe ou não, não é seu objetivo epistemológico (ou seja, seu principio de organização) “provar” a existência de Deus. Isso é má ciência, e má filosofia. E como disse C. S. Lewis, em Cristianismo Puro e Simples, a boa filosofia deve existir nem que seja para debater a má filosofia.
            A visão de mundo, que normalmente se apóia na teoria darwinista é o naturalismo. Em poucas palavras, naturalismo pode ser definido por aquilo que Carl Sagan falava no início do seriado Cosmos: “O cosmos é tudo o que existe, ou existiu, ou sempre existirá.” Palavras, diga-se de passagem, diametralmente opostas à revelação de Deus em apocalipse 1:8: “Eu sou o alfa e o ômega, o principio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e há de vir, o Todo Poderoso”.

Muitas vezes temos uma imagem idealizada da ciência como uma investigação empírica e imparcial que se aplica estritamente a evidências. Esta é a definição que encontramos em livros didáticos.
Os cientistas não são seres imparciais. Considere estas palavras ditas por Richard Dawkins, "Mesmo que não existam verdadeiras evidências a favor da teoria darwinista, [...] ainda assim estaríamos justificados em pre­feri-la acima de todas as outras teorias".43 Por quê? Porque é naturalista.
Como John C. Lennox diz: “Afirmações de cientistas não são necessariamente afirmações de ciência”.[xii] E continua: “O ideal iluminista do observador cientifico friamente racional, completamente independente, livre de teorias preconcebidas, de prévios compromissos filosóficos, éticos e religiosos, que faz pesquisas e chega a conclusões desapaixonadas e imparciais, é visto hoje em dia pelos filósofos da ciência sérios como um mito simplista. Assim como o resto da humanidade, os cientistas têm ideias preconcebidas (...)”.[xiii]
            Por isso que Alvin Plantinga vai afirmar que o naturalismo é uma quase-religião. Ele argumenta que o naturalismo serve como uma religião, já que procura responder as profundas questões humanas como: Existe uma pessoa como Deus? Nós humanos temos uma liberdade significativa? Nós podemos esperar vida após a morte? O naturalismo dá respostas a estas perguntas: não há Deus, não há imortalidade, e a liberdade é, na melhor das hipóteses, algo arriscado. O naturalismo procura nos dizer o que é a realidade, onde nos encaixamos no universo, como nós nos relacionamos com outras criaturas, e como nós viemos a existir. O naturalismo está, portanto, em concorrência com as grandes religiões teístas.


Portanto, o debate subjacente hoje não é em torno dos temas de fé e ciência, mas de cosmovisões: teísmo x naturalismo.

Seria o teísmo, algo como uma fé cega, sem evidências? Como vimos, não se trata disso. Existem muitos cientistas cristãos, e muitas teorias e evidências têm levado muitas pessoas a considerarem a possibilidade de um criador.
A visão cristã cientifica entende que o universo funciona dentro de leis graças à um Deus que criou tudo e que continua sustentando este universo. A visão cristã no início da idade moderna e dos primeiros cientistas era a de que o mundo foi criado por um Deus racional, assim eles não estavam surpresos por descobrir que se podia encontrar algo verdadeiro sobre a natureza e o universo com base na razão.  De fato, como aponta o filosofo da ciência Alvin Plantinga, em “Where the conflict really lies. Science, religion and naturalism”, há um conflito superficial entre ciência e teísmo, mas um acordo superficial e um profundo conflito entre ciência em naturalismo. 
A confiança que colocamos em rótulos como “cientificamente comprovado” na verdade é a exposição de uma forma de pensar ocidental que se fortalece no século XIX dentro do processo de revolução científica, quando uma mentalidade começou a surgir de que tudo deveria ser provado pela ciência. O que não pudesse ser provado empiricamente, simplesmente não existia. Mas a despeito de existirem muitos cristãos que apoiavam e faziam parte da comunidade cientifica, alguns começaram a separar fé e ciência, como estas duas coisas fizessem parte de universos totalmente diversos e não poderiam mais ser convergentes. É nesta época que surge a visão naturalista, principalmente com o lançamento do livro de Charles Darwin, “A origem das espécies”, em 1859 (aliás, mesmo ano do lançamento da obra do velho Karl Marx, “Para a crítica da economia política”, que marcou sua fase final e mais forte conceitualmente em relação ao materialismo). Tal livro serviu para que os naturalistas apontassem que não era necessário um criador.
Um dos principais defensores da idéia de Darwin na época foi Thomas Henry Huxley, apelidado de o buldogue de Darwin. Foi ele que cunhou o termo ‘agnosticismo’ para descrever seu posicionamento face à religião.
Esta visão sim se propôs a responder questões existenciais, utilizando-se de um teor cientificista. Aqui entramos em um território pantanoso no qual podemos começar a compreender que a guerra não é entre ciência e fé, mas entre naturalismo e teísmo. A guerra é de cosmovisões!







[i] Lennox, por que a ciência não consegue enterrar Deus, p. 33.
[ii] Stark, “Triumph of Christianity” (p82)
[iii] PEARCEY, Nancy. Total truth. Introduction, p. 23.
[iv] SOUZA, Rodolfo Amorim de Castro. Cosmovisão: evolução do conceito e aplicação cristã, IN: Cosmovisão cristã e transformação.
[v] Souza, opus cit, p. 47.
[vi] Rodney stark, triumph of christianity, cap. 16.
[vii] Stark, cap. 16.
[viii] Collins, C. John. Science and Faith, friends or foes?
[ix] Habermas, Gary.
[x] Stark, triumph of christianity, conclusão do cap. 16
[xi] Noll, Mark. Science, religion and A. D. White. Seeking peace in the “Warfare between science and theology, p.7 . disponível em  www.BioLogos.org/projects/scholar-essays.
[xii] Lennox, pag. 25
[xiii] Lennox, p. 45

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