É curioso pensar na especificidade da Revolução Industrial ter ocorrido primeiramente na Inglaterra. Um exemplo pode nos ajudar a compreender a
originalidade desse processo histórico: Guerra dos tronos.
Por que Westeros não
teve uma Revolução Industrial?
Westeros, a região principal de Guerra dos Tronos,
tem muito em comum com a Europa ocidental na Idade Média. Sua tecnologia é
similar, a sociedade feudal e até mesmo o clima é quase o mesmo.
Mas a diferença chave é que Westeros está mais ou
menos assim por mais de 6000 anos. Quando nós consideramos a evolução da Europa
Ocidental desde o tempo da queda do Império Romano – “somente” 1500 anos atrás
– é pertinente questionarmos porque seu parente literário, Westeros, permaneceu
tão subdesenvolvido. Por que Westeros não experimentou uma revolução
industrial?
A primeira coisa a
apontar é que o desenvolvimento econômico não é simplesmente um processo
contínuo, mas um processo de trancos e barrancos. Em particular, “mudanças
graduais” na disponibilidade de tecnologias
de aplicação geral separaram épocas: uma vez que se experimentou uma
transição tecnológica, é difícil imaginar como foi o mundo antes.
Tecnologias de aplicação geral são tecnologias que
podem afetar toda uma economia e alterar sociedades através de seu impacto em
estruturas sociais. Exemplos são a máquina a vapor, a eletricidade, o
computador, a internet.
A grande Revolução
Industrial que começou no século XVIII é uma dessas transições. A Revolução Industrial não aconteceu da noite para o dia, mas foi o
resultado de acumulação de um longo período caracterizado pelo surgimento de
tecnologias anteriores. O exemplo do estribo é sintomático. Seu surgimento
resolveu o problema de se lutar em cima do cavalo e possibilitou o
desenvolvimento da instituição da cavalaria.
Um invento que não existe em Westeros é o banco, que
é uma condição necessária para o investimento na construção de capacidade
tecnológica. Sem bancos para criar dinheiro, Westeros está condenada a ficar em
um permanente estado de escassez monetária com uma consequente falta de
investimentos.
A coisa mais próxima
que o mundo de Guerra dos Tronos tem de um banco moderno é além do mar em Essos,
onde o Banco de Ferro de Bravos provê ajuda financeira por todo o mundo. O
banco tem um paralelo moderno: como o FMI (fundo monetário internacional), o
Banco de Ferro adquiriu uma reputação por arquitetar mudanças de regimes quando
ele acredita que seus débitos não vão ser pagos. Como o próprio livro de Guerra
dos Tronos aponta, poder financeiro conduz a influencia política.
Entretanto, o principal interesse do
Banco de Ferro é na soberania do banco, o que não necessariamente estimula a
economia: por exemplo, no reino de Robert Baratheon os empréstimos vão em sua
maioria para concursos e torneios inúteis. O Banco de Ferro ignora o empréstimo
cotidiano mudando para empresas que financiam atividades e investimentos.
Outra coisa: Crescimento
industrial requer energia. Carvão, mais eficiente que madeira, proveu o
combustível da revolução industrial e não há evidências de carvão ou outros
combustíveis fosseis existentes em Westeros ou além. A habilidade de colocar
grandes motores pra funcionar está além até mesmo se houvesse um Sete Reinos
Industrializado.
Mas,
apesar disto, Westeros tem trabalhadores, muita terra disponível, uma espécie
de indústria bancária e presumivelmente, recursos similares da Europa do século
XVIII. Parece que as condições para uma onda tecnológica estão postas. Mas então
porque essa onda tecnológica não rompeu?
A falta de desenvolvimento em Westeros
é explicada pela forma como o conhecimento é conservado por um grupo de
pessoas.
Na Europa, a industrialização se
apoiou na disseminação de ideias. Quanto mais o conhecimento (know-how) era
espalhado, mais pessoas podiam ouvir sobre uma inovação e podiam copiar ou
aprimorar, construindo um círculo de aceleração do desenvolvimento tecnológico.
Em Westeros,
entretanto, a inovação tecnológica estava obstruída por uma instituição: A
cidadela era casa de uma ordem de estudiosos conhecidos como os Meistres.
Os Meistres sentam
no único tesouro do conhecimento cientifico em Westeros. Ao lado da nobreza,
eles estão entre os poucos que sabem ler e escrever. Seus membros estão
alocados em quase todos os castelos e grandes casas do reino e eles usam seu
controle das informações para cultivar sua influencia.
Então, seria
necessária uma reviravolta política para que o Universo de Guerra dos Tronos
alcançasse a Europa do século XVIII. Quebrar o sistema feudal com seus absurdos
inerentes ajudaria – afinal, um senhor de escalão médio poderia imprudentemente
atrair a atenção pelo desenvolvimento de máquinas. Seria necessária uma
sociedade de livre concorrência.
Da mesma maneira que
a reforma protestante do século XVI quebrou o quase total monopólio católico na
educação e pavimentou o caminho para futuros avanços tecnológicos, Westeros
deve reformar seus Meistres.
Até
que os Meistres forem tirados e a educação se tornasse generalizada, Westeros
está condenada a permanecer na mesma rotina da era Medieval. Boa notícia para
os fãs de fantasia, mas má notícia para os personagens presos nela. O inverno
está chegando e seria legal se eles tivessem aquecimento central.
fonte: http://theconversation.com/game-of-thrones-why-hasnt-westeros-had-an-industrial-revolution-25240
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