domingo, 14 de dezembro de 2014

Por que Westeros não teve uma Revolução Industrial?

É curioso pensar na especificidade da Revolução Industrial ter ocorrido primeiramente na Inglaterra. Um exemplo pode nos ajudar a compreender a originalidade desse processo histórico: Guerra dos tronos.                                                            
Por que Westeros não teve uma Revolução Industrial?


Westeros, a região principal de Guerra dos Tronos, tem muito em comum com a Europa ocidental na Idade Média. Sua tecnologia é similar, a sociedade feudal e até mesmo o clima é quase o mesmo.
Mas a diferença chave é que Westeros está mais ou menos assim por mais de 6000 anos. Quando nós consideramos a evolução da Europa Ocidental desde o tempo da queda do Império Romano – “somente” 1500 anos atrás – é pertinente questionarmos porque seu parente literário, Westeros, permaneceu tão subdesenvolvido. Por que Westeros não experimentou uma revolução industrial?
A primeira coisa a apontar é que o desenvolvimento econômico não é simplesmente um processo contínuo, mas um processo de trancos e barrancos. Em particular, “mudanças graduais” na disponibilidade de tecnologias de aplicação geral separaram épocas: uma vez que se experimentou uma transição tecnológica, é difícil imaginar como foi o mundo antes. 
Tecnologias de aplicação geral são tecnologias que podem afetar toda uma economia e alterar sociedades através de seu impacto em estruturas sociais. Exemplos são a máquina a vapor, a eletricidade, o computador, a internet. 
A grande Revolução Industrial que começou no século XVIII é uma dessas transições. A Revolução Industrial não aconteceu da noite para o dia, mas foi o resultado de acumulação de um longo período caracterizado pelo surgimento de tecnologias anteriores. O exemplo do estribo é sintomático. Seu surgimento resolveu o problema de se lutar em cima do cavalo e possibilitou o desenvolvimento da instituição da cavalaria. 
Um invento que não existe em Westeros é o banco, que é uma condição necessária para o investimento na construção de capacidade tecnológica. Sem bancos para criar dinheiro, Westeros está condenada a ficar em um permanente estado de escassez monetária com uma consequente falta de investimentos.
A coisa mais próxima que o mundo de Guerra dos Tronos tem de um banco moderno é além do mar em Essos, onde o Banco de Ferro de Bravos provê ajuda financeira por todo o mundo. O banco tem um paralelo moderno: como o FMI (fundo monetário internacional), o Banco de Ferro adquiriu uma reputação por arquitetar mudanças de regimes quando ele acredita que seus débitos não vão ser pagos. Como o próprio livro de Guerra dos Tronos aponta, poder financeiro conduz a influencia política. 
Entretanto, o principal interesse do Banco de Ferro é na soberania do banco, o que não necessariamente estimula a economia: por exemplo, no reino de Robert Baratheon os empréstimos vão em sua maioria para concursos e torneios inúteis. O Banco de Ferro ignora o empréstimo cotidiano mudando para empresas que financiam atividades e investimentos.
Outra coisa: Crescimento industrial requer energia. Carvão, mais eficiente que madeira, proveu o combustível da revolução industrial e não há evidências de carvão ou outros combustíveis fosseis existentes em Westeros ou além. A habilidade de colocar grandes motores pra funcionar está além até mesmo se houvesse um Sete Reinos Industrializado.
Mas, apesar disto, Westeros tem trabalhadores, muita terra disponível, uma espécie de indústria bancária e presumivelmente, recursos similares da Europa do século XVIII. Parece que as condições para uma onda tecnológica estão postas. Mas então porque essa onda tecnológica não rompeu?
A falta de desenvolvimento em Westeros é explicada pela forma como o conhecimento é conservado por um grupo de pessoas.
Na Europa, a industrialização se apoiou na disseminação de ideias. Quanto mais o conhecimento (know-how) era espalhado, mais pessoas podiam ouvir sobre uma inovação e podiam copiar ou aprimorar, construindo um círculo de aceleração do desenvolvimento tecnológico.
Em Westeros, entretanto, a inovação tecnológica estava obstruída por uma instituição: A cidadela era casa de uma ordem de estudiosos conhecidos como os Meistres.










Os Meistres sentam no único tesouro do conhecimento cientifico em Westeros. Ao lado da nobreza, eles estão entre os poucos que sabem ler e escrever. Seus membros estão alocados em quase todos os castelos e grandes casas do reino e eles usam seu controle das informações para cultivar sua influencia.
Então, seria necessária uma reviravolta política para que o Universo de Guerra dos Tronos alcançasse a Europa do século XVIII. Quebrar o sistema feudal com seus absurdos inerentes ajudaria – afinal, um senhor de escalão médio poderia imprudentemente atrair a atenção pelo desenvolvimento de máquinas. Seria necessária uma sociedade de livre concorrência.
Da mesma maneira que a reforma protestante do século XVI quebrou o quase total monopólio católico na educação e pavimentou o caminho para futuros avanços tecnológicos, Westeros deve reformar seus Meistres.
Até que os Meistres forem tirados e a educação se tornasse generalizada, Westeros está condenada a permanecer na mesma rotina da era Medieval. Boa notícia para os fãs de fantasia, mas má notícia para os personagens presos nela. O inverno está chegando e seria legal se eles tivessem aquecimento central. 

fonte: http://theconversation.com/game-of-thrones-why-hasnt-westeros-had-an-industrial-revolution-25240

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar este blog