A ideia básica deste livro é
tratar acerca das polêmicas em torno do nascente campo da biologia e da
vivificação no final do século XIX. A obra foi publicada em 1896, e traz a
narração em primeira pessoa de Edward Prendick, um náufrago resgatado por um
navio e deixado na ilha do Doutor Moreau, que criava híbridos de humanos
através da vivissecção (cirurgia experimental em organismo vivos) de animais.
Como é comum em obras de ficção científica, oi livro traz uma série de temas
filosóficos como dor e crueldade, responsabilidade moral, identidade humana e
interferência humana na natureza.
capa da primeira edição de 1896 |
Como me alertou meu amigo
Guilherme Schuhli, não há menção à genética no livro, mas sim à fisiologia à
luz das conquistas de técnicas cirúrgicas. Mesmo assim, suas discussões servem
bem ao novo ídolo molecular de modificações genéticas. Tanto que os mesmos
temas de dor e crueldade, responsabilidade moral, identidade humana e
interferência humana na natureza (no caso a própria natureza humana) continuam
em evidência e talvez mais contundentes.
(Para alguns desses temas, indico
aqui a ótima obra A vida imortal de Henrietta Lacks de Rebecca Skloot aqui)
H.G. Wells é considerado um dos
maiores nomes mundiais de obras de ficção científica não por acaso. Suas obras
levantam uma série de debates morais além de previsões distópicas sobre o
futuro. Wells vinha de um contexto acadêmico que contribuiu para a ambientação
de suas obras. Ele estudou no Royal College of Science e fez algumas pesquisas
de biologia sob a orientação de Thomas Henry Huxley. (1825-1895), biólogo
britânico conhecido como o "buldogue de Darwin", por defender ferrenhamente
as ideias evolucionistas. (Uma curiosidade: Thomas Henry é avô de outro grande
escritor de ficção científica, Aldous Huxley).
Talvez uma questão fundamental de
cunho filosófico esteja na própria figura do Dr. Moreau. Qual o limite moral de
experimentos biológicos? Pela boca do doutor, entre uma vivissecção e outra,
ouvimos:
" Até hoje a questão ética
deste meu trabalho não me preocupou, em absoluto. O estudo da natureza deixa um
homem tão despido de remorsos quanto a própria natureza. Fui em frente, sem
pensar em nada a não ser nos problemas com que me defrontava"
Um alerta contra a noção de que a
ciência deve ser deixada aos cuidados unicamente dos cientistas e de que a
filosofia e o estudo da ética são fúteis e desnecessários. H. G. Wells continua
atualíssimo.
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