quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A Ilha do Doutor Moreau - H.G.Wells

A ideia básica deste livro é tratar acerca das polêmicas em torno do nascente campo da biologia e da vivificação no final do século XIX. A obra foi publicada em 1896, e traz a narração em primeira pessoa de Edward Prendick, um náufrago resgatado por um navio e deixado na ilha do Doutor Moreau, que criava híbridos de humanos através da vivissecção (cirurgia experimental em organismo vivos) de animais. Como é comum em obras de ficção científica, oi livro traz uma série de temas filosóficos como dor e crueldade, responsabilidade moral, identidade humana e interferência humana na natureza.


capa da primeira edição de 1896


Como me alertou meu amigo Guilherme Schuhli, não há menção à genética no livro, mas sim à fisiologia à luz das conquistas de técnicas cirúrgicas. Mesmo assim, suas discussões servem bem ao novo ídolo molecular de modificações genéticas. Tanto que os mesmos temas de dor e crueldade, responsabilidade moral, identidade humana e interferência humana na natureza (no caso a própria natureza humana) continuam em evidência e talvez mais contundentes.
(Para alguns desses temas, indico aqui a ótima obra A vida imortal de Henrietta Lacks de Rebecca Skloot aqui)
H.G. Wells é considerado um dos maiores nomes mundiais de obras de ficção científica não por acaso. Suas obras levantam uma série de debates morais além de previsões distópicas sobre o futuro. Wells vinha de um contexto acadêmico que contribuiu para a ambientação de suas obras. Ele estudou no Royal College of Science e fez algumas pesquisas de biologia sob a orientação de Thomas Henry Huxley. (1825-1895), biólogo britânico conhecido como o "buldogue de Darwin", por defender ferrenhamente as ideias evolucionistas. (Uma curiosidade: Thomas Henry é avô de outro grande escritor de ficção científica, Aldous Huxley).
Talvez uma questão fundamental de cunho filosófico esteja na própria figura do Dr. Moreau. Qual o limite moral de experimentos biológicos? Pela boca do doutor, entre uma vivissecção e outra, ouvimos:
" Até hoje a questão ética deste meu trabalho não me preocupou, em absoluto. O estudo da natureza deixa um homem tão despido de remorsos quanto a própria natureza. Fui em frente, sem pensar em nada a não ser nos problemas com que me defrontava"
Um alerta contra a noção de que a ciência deve ser deixada aos cuidados unicamente dos cientistas e de que a filosofia e o estudo da ética são fúteis e desnecessários. H. G. Wells continua atualíssimo.


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