terça-feira, 12 de abril de 2016

Capitão América: Guerra Civil. Ciência x tecnologia?

É incrível como a cultura pop é rica em detalhes filosóficos. Pena que poucos percebam isso. Já falei em outro lugar sobre a questão filosófica em torno de Capitão América: Guerra Civil. Agora podemos abordar a história do ponto de vista da ciência e da tecnologia, temas bastante presentes no universo Marvel, analisando o surgimento dos heróis, mas sem levar em consideração suas personalidades, que foi um pouco analisado no post anterior.

Primeiramente, vejamos o lado que representa os avanços da ciência. A origem do Capitão América segundo os quadrinhos ocorre quando o franzino Steve Rogers, perturbado com a ascensão do Terceiro Reich, se alista no exército, mas é recusado por causa de sua pequena estatura. Então, sua força de vontade chama a atenção do exército americano e ele é usado como cobaia em um projeto de Super Soldado, recebendo um soro especial. Juntamente com a exposição de "raios Vita", o soro é um sucesso e transforma Steve Rogers em um quase perfeito ser humano, com força, agilidade, energia e inteligência. O personagem foi criado justamente em 1941, no meio da Segunda Guerra Mundial.

The front page of the first Captain America comic depicts Captain America punching Adolf Hitler in the jaw. A Nazi soldier's bullet deflects from Captain America's shield, while Adolf Hitler falls onto a map of the United States of America and a document reading 'Sabotage plans for U.S.A.'
Captain America Comics #1 (March 1941).


Desde então os cientistas tem pesquisado sobre formas de aumentar as habilidades dos humanos e, apesar de não terem descoberto um Soro de Super Soldado, tem se identificado os genes específicos envolvidos em aumentar massa muscular e melhorar a carga de transporte de oxigênio do sangue.
Eles também desenvolveram ferramentas para ativar e desativar genes individuais, como apertar um interruptor de luz seletivamente, um processo denominado epigenética.
Epigenética se refere à características de organismos unicelulares e multicelulares que são estáveis ao longo de diversas divisões celulares mas que não envolve mudanças na sequência de DNA do organismo.
Existem várias ferramentas de edição de genoma - como nucleases de dedo de zinco, ou sistemas CRISPR / Cas9 - que teoricamente poderiam permitir você procurar epigeneticamente e ativar genes que fazem seus músculos fisicamente grandes, torná-lo estrategicamente atento, incrivelmente rápido, ou aumentar a seu resistência.
Estas ferramentas e suas instruções específicas poderiam ser embalados em cápsulas que estão sendo desenvolvidos por empresas farmacêuticas. É aqui que as raios Vita entram: estas cápsulas de entrega de drogas podem ser projetadas para liberar o seu conteúdo somente quando submetidos a certos comprimentos de onda de luz. Vários sistemas atuais envolvem a luz ultravioleta, mas eles provavelmente poderiam ser desencadeados por qualquer comprimento de onda que constitui os raios Vita. Basta injetar as cápsulas contendo instruções para, digamos, ativar crescimento muscular em certos grupos musculares de Rogers e descarregar alguns feixes de luz ultra violeta. Portanto, um avanço das ciências biológicas que só recentemente vem sendo aprofundado e, também questionado acerca de seus limites éticos.

Já o Homem de Ferro representa o lado da tecnologia. Aparecendo pela primeira vez nos quadrinhos em 1963, Tony Stark é um bilionário playboy, magnata dos negócios e um gênio da engenharia. Stark sofre um violento ferimento no peito durante um sequestro no qual seus captores tentar forçar ela a construir uma arma de destruição em massa. Ao invés ele cria uma armadura energizada para salvar sua vida e escapar do cativeiro. Mais tarde, Stark amplia sua armadura com armas e outros mecanismos tecnológicos que ele desenvolveu através de sua empresa, a Industrias Stark. Surgido num período pós segunda guerra, inicialmente o Homem de Ferro era um veículo para o autor Stan Lee explorar temas da Guerra Fria, particularmente o papel da tecnologia americana na luta contra o comunismo. Mais tarde, reimaginações do Homem de Ferro saíram dos temas da Guerra Fria para questões mais contemporâneas, como o crime organizado e o terrorismo.

Tales of Suspense #39 (March 1963)


Essas explorações temáticas, da biologia na criação do Capitão América e da tecnologia empregada por Tony Stark para transformar-se no Homem de Ferro, apontam para as possibilidades de transcender as limitações humanas: corpos mais fortes, intelecto geneticamente melhorado, tecnologias para fazer voar e tornar o corpo resistente.

A guerra civil dos quadrinhos e filmes também pode ser vista como uma metáfora para a disputa entre ciência e tecnologia. Será que haverá uma aliança entre Stark e Rogers, como há uma aliança entre ciência e tecnologia nos dias atuais?

A ciência e tecnologia tratada nos quadrinhos não são temas maravilhosos de onde se partir para trabalhar com adolescentes e jovens? A cultura pop/nerd é um prato cheio para discussões mais profundas do que supõe a nossa vã filosofia.

Quem vai vencer essa guerra? O lado liderado pelo tecnólogo Tony Stark ou o lado defendido pelo humano melhorado cientificamente Steve Rogers? Independente do qual lado for o vencedor, ganhamos novas possibilidades de discussões.
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