sexta-feira, 1 de abril de 2016

Justificando filosoficamente de que lado ficarei na Guerra Civil

O filme "Capitão América: Guerra Civil" da Marvel nem estreou mas já tem feito as pessoas escolheram de que lado ficarão: do lado do time Stark, representado pelo Homem de Ferro, o do lado do Capitão América, o Team Cap.
Mas as escolhas devem ser melhor embasadas do que somente preferências por atores ou personagens. As escolhas devem ser embasadas em qual cosmovisão representa melhor sua posição filosófica.
Primeiramente, uma curta sinopse. Capitão América: Guerra Civil se centra nos eventos em torno da implementação do Ato do Registro de Superhumanos (em inglês Superhuman Registration Act). O lado à favor do Registro, liderado pelo Homem de Ferro sente que essa lei é uma progressão natural das coisas e é ineficaz se opor e causar um tumulto público. Aqueles que se opõem à lei, liderados pelo Capitão América, pensam que ela é uma violação grave de seus direitos e acabarão com qualquer chance de eles poderem utilizar seus poderes para fazer o bem e também de viverem uma vida normal. Em curtas palavras, isso levará à uma guerra civil entre os dois lados.
Agora vejamos alguns posicionamentos de cada líder no universo Marvel. Em Vingadores: a Era de Ultron, Tony Stark acredita que usar inteligência artificial irá eventualmente levar a uma grande quantidade de bondade e alegria para a maior quantidade de pessoas. Ele está tão focado em essa ser a escolha moral certa que ele ignora os outros Vingadores e desenvolve a tecnologia em segredo que acaba culminando em Ultron, um inimigo ajustado para destruir a raça humana. Esse tipo de opção, em que se busca a melhor escolha moral baseado na maior quantidade de bondade e alegria que se possa obter é conhecida na filosofia como “utilitarismo”. Há várias vertentes de utilitarismo, mas genericamente, os defensores dessa vertente acreditam que nenhuma ação ou opção é certa ou errada. Ao invés, o que torna uma ação particular certa ou errada é o julgamento da quantidade de bem (isto é, alegria, prazer, satisfação), que ela traz para o maior número de pessoas. Em outras palavras, os fins justificam os meios. O grande problema com o utilitarismo é que o cálculo do maior bem para o maior número possível de pessoas está sujeito à pessoa que faz a equação. Tony é um narcisista, que acaba levando à um utilitarismo narcisista, o que quer dizer que uma pessoa com outro ponto de vista veria o bem maior de forma diferente.
O bem maior para a maior quantidade de pessoas soa muito legal em teoria, mas (como o comunismo) há definitivamente algumas falhas com essa premissa filosófica. Por exemplo, o utilitarismo pode ser usado para justificar a escravidão de um pequeno grupo porque isso traria alegria e estabilidade econômica para um número maior de pessoas; ou isso poderia ser usado para justificar a prisão de super-heróis na Zona Negativa sem um julgamento (o que ocorre em Guerra Civil). Ambas as ações poderiam ser consideradas erradas para a maioria, mas poderiam ser justificadas usando um ponto de vista utilitarista.
Já a ações do Capitão América podem ser enquadradas na vertente da “deontologia”. Esta posição é o oposto do utilitarismo. Esta filosofia foca exclusivamente no que cada um deve fazer, ou o “dever” de cada um. Diferentemente dos utilitaristas, os deontologistas acreditam que os fins não justificam os meios.  Eles também acreditam que cada pessoa tem um valor intrínseco e que é imoral usar alguém como um meio para um fim. Ao invés, cada pessoa é um fim em si mesma.
Capitão América vê a implementação do Ato do Registro de Superhumanos como uma violação dos direitos humanos, e como nenhuma pessoa deva ser usada como um fim, ele acredita que é seu dever se opor ao Ato, mesmo este sendo a lei. Nos quadrinhos, quando o Homem-Aranha questiona o Capitão América porque ele se recusa a desistir, ele responde:

Não importa o que a imprensa fala. Não importa o que os políticos ou as multidões falam. Não importa se todo o país decidir que algo errado é correto. Está nação é fundada em um princípio acima de todos os outros: a exigência de que nós lutemos por aquilo que nós acreditamos, não importando as probabilidades e as consequências. Quando a multidão e a imprensa e todo o mundo fala pra você se mexer, sua tarefa é se plantar como uma árvore ao lado do rio da verdade, e dizer para o mundo todo – Não, mova-se você.  

Não há uma vírgula de utilitarismo nestas palavras. É pura deontologia. Capitão América está lutando pelo que ele acredita que seja a base moral correta em seu código moral. Nós podemos ver essa posição em “Capitão América: soldado invernal”. Ele acha que o Project Insight (uma iniciativa para neutralizar preventivamente ameaças antes que um incidente ocorra) é uma afronta aos direitos humanos, e que a punição deveria seguir o crime e não prevení-lo. Em certo momento o Capitão América fala para Nick Fury que ele está segurando uma arma para a cabeça de cada cidadão e chamando isso de segurança, e diz: “Isto não é liberdade, isto é medo”.

Após o filme, que talvez divirja dos quadrinhos, poderemos confirmar qual lado se mostrou a melhor opção. Não sabemos qual lado será o vencedor, nem sempre o melhor lado vence. Mas eu já escolhi meu lado. J #teamcap!

baseado em:
 http://www.fourletternerd.com/the-philosophy-of-civil-war-part-1-tony-stark-and-utilitarianism/
http://www.fourletternerd.com/the-philosophy-of-civil-war-part-2-captain-america-and-deontology/

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