domingo, 24 de abril de 2016

Missão Integral e sua cosmovisão 5:Sobre Obras e conclusão

Chegamos à última parte de minha série sobre a cosmovisão da Missão Integral. Agora abordarei a questão de "Obras".

Como diz Pedro em 1 Pedro 4:10: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.”


A missão da Igreja consiste em dar testemunho, no mundo, da graça de Deus. 


- pobres


E agora, ó Israel, que é que o Senhor seu Deus pede de você, senão que tema o Senhor, o seu Deus, que ande em todos os seus caminhos, que o ame e que sirva ao Senhor, ao seu Deus, de todo o seu coração e de toda a sua alma,

e que obedeça aos mandamentos e aos decretos do Senhor, que hoje lhe dou para o seu próprio bem?

Ao Senhor, ao seu Deus, pertencem os céus e até os mais altos céus, a terra e tudo o que nela existe.
No entanto, o Senhor se afeiçoou aos seus antepassados e os amou, e a vocês, descendentes deles, escolheu entre todas as nações, como hoje se vê.
Sejam fiéis à sua aliança em seus corações, e deixem de ser obstinados.
Pois o Senhor, o seu Deus, é o Deus dos deuses e o Soberano dos soberanos, o grande Deus, poderoso e temível, que não age com parcialidade nem aceita suborno.
Ele defende a causa do órfão e da viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe alimento e roupa.
Amem os estrangeiros, pois vocês mesmos foram estrangeiros no Egito.
Temam o Senhor, o seu Deus, e sirvam-no. Apeguem-se a ele e façam os seus juramentos somente em nome dele.


O que Javé faz? V. 18: Javé é o Deus que defende a causa do órfão e da viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe alimento e roupa. A expressão “órfão, viúva e o estrangeiro” aparece muitas vezes no Antigo Testamento e denota aqueles entre o povo de Israel que não tinham proteção natural dentro da comunidade; e, portanto, torna-se uma espécie de resumo para todos os fracos e vulneráveis, os marginalizados da sociedade, que têm maior probabilidade de serem sacrificados quando a situação se torna difícil. Dada sua condição precária, Javé preocupa-se especialmente com eles.
Nesta passagem vemos que o indicador da saúde espiritual de Israel seria a maneira como tratasse o pobre e o vulnerável em seu meio. Adoração e justiça social iam de mãos dadas: quando quer que Israel esquecesse Javé e lhe desse as costas, indo após outros deuses de outras nações, inevitavelmente esqueceria os fracos e vulneráveis. Assim, a idolatria religiosa e a opressão social estavam intimamente associadas.
A visão bíblica de justiça vem da convicção de que Deus ama a justiça (p.ex., Is 61.8, Sl 37.28) e que seu amor é um amor  ativo que aparece em seu consertar situações de injustiça (p.ex. Sl 103.6; 140.12; 146.7-9). O povo de Deus o segue ao fazer justiça, ou seja, restaurar à comunidade todos os que por má sorte, calamidades, necessidades ou opressão foram até então excluídos.
Desde o começo, os cristãos têm sido reconhecidos por prover as necessidade materiais não apenas de sua própria comunidade como também de seus vizinhos não-cristãos. Essa prática da igreja primitiva, mesmo em tempos de perseguição, várias vezes confundia seus contemporâneos. Os pagãos recebiam ajuda e hospitalidade de cristãos que frequentemente eram tão pobres quanto eles. Um testemunho eloquente sobre essa pratica vem de um fonte surpreendente, o imperador ex-cristão Juliano (“o Apóstata”) que, achando difícil em 360 D.C restabelecer o paganismo como religião oficial do Império Romana, reclamou dos cristãos: ‘foram sua benevolência aos estranhos, seu cuidado pelos túmulos dos mortos e a pretensa santidade de sua vidas que mais contribuíram para aumentar seu ateísmo [de que eram acusados]...os ímpios galileus sustentam não apenas seus próprios pobres como os nossos também’ (citado em Kreider, A. Worship and Evangelism in pré-cristendom”, Vox evangélica (1994), p. 16.). [Pesquette; Ramachandra. A mensagem da missão, p. 104-105.]
[Pesquette; Ramachandra. A mensagem da missão, p. 145..

Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler.
Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito:
"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos
e proclamar o ano da graça do Senhor".
Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele;
e ele começou a dizer-lhes: "Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir".



No uso do AT, “os pobres” são economicamente fracos e vulneráveis, mas vivendo em completa dependência de Deus e buscando socorro nele. Jesus, no evangelho de Lucas, de fato tem muito a falar desafiadoramente, sobre os ricos e sua venalidade, sua facilidade em se vender. Em Lucas se encontram os ais pelos ricos (6.24), a parábola do rico insensato (12.16021), a história do rico e de Lázaro (16.19-31), e a conduta exemplar de Zaqueu, o chefe dos publicanos de Jericó (19.1-10). Ele é o único evangelista que mostra João batista, falando em termos práticos o que significa dar “frutos que mostrem o arrependimento (3.8), e o faz em termos de relações econômicas (3.10-14). O termo ptochos (pobre) ocorre dez vezes em Lucas, comparado a cinco vezes em Mateus e em Marcos.
Mas no evangelho de Lucas ptochos (pobre) frequentemente parece um termo coletivo para todos os desprivilegiados. Como David Bosch aponta, sempre que Lucas da uma lista de pessoas que sofrem, ele coloca os pobres no começo (6.20, 14.13 e 14.21). “todos os que padecem são, em algum sentido muito real, os pobres. Isso é particularmente verdade sobre os doentes. Lázaro, o pobre prototípico de Lucas, é tanto pobre quanto doente. Portanto, a pobreza primariamente é uma categoria social em Lucas, embora certamente tenha outras conotações também”. (David Bosch, transforming missions, p. 99).
Joel Green observa que “pobres” pode servir como um código de baixo status, para os excluídos de acordo com o cânones normais de honra e status no mundo mediterrâneo. Portanto, embora “pobre” dificilmente deixe de ter significado econômico, para Lucas este significado mais amplo de honra e status diminuídos prepondera (Green, Luke, p. 211).
Então, como argumentam ramachandra e Peskette, a missão de Jesus engloba todos os que, por quaisquer razões sociais, culturais ou religiosas, são marginalizados, relegados para fora dos limites que até então definiam a nação da aliança. Ele categoricamente afirma a intenção de Deus de quebrar estes limites: esses “marginais” são objeto da graça divina e, portanto, foco da sua missão. (a mensagem da missão, p. 146).
Esta passagem de Lucas faz referencia a Isaias 61.1-2. No contexto dessa passagem, também em 58.5-9 e em outras passagem de Isaias, o cuidado para com os pobres era o que agradava Deus.
Compreendendo corretamente essa passagem de Lucas, aprendemos que a dicotomia entre evangelização e ação social é incoerente, e ficamos com um alerta:
            “Não há evangelismo sem solidariedade; não há solidariedade cristã sem compartilhamento do conhecimento do reino que é a promessa de Deus para os pobres da Terra. Há aqui um teste duplo de credibilidade: proclamação que não exponha as promessas de justiça do reino para os pobres da Terra é uma caricatura do evangelho; mas a participação cristã nas lutas por justiça que não apontem para as promessas do reino também fazem caricatura de um entendimento cristão de justiça. (Mission and evangelism, world council of churchs, 1983). 


Salmo 104.
O salmo 104 está entre dois outros longos salmos com temas complementares ao tema da criação. O 105 é uma revisão da História de Israel, do pacto que Deus fez com Abraão, Isaque e Jacó, e dos antigos libertadores José e Moisés. Esse salmo lembra-nos que o Criador exposto no salmo 104 é também o Senhor da História, do tempo e do espaço. O salmo 103, do outro lado, é uma celebração pessoa do Senhor como Redentor. Celebra em termos pessoais o amor perdoador de Deus, jogando nossos pecados para as extremidades do Universo, resgatando-nos da sepultura, prometendo seu amor para sempre e sempre.
Considerados em conjunto, esses salmos levantam a seguinte questão: “há um lugar ainda mais claro onde vemos o amor criativo e redentor de Deus mais nitidamente delineado num momento e lugar particulares, e espalhando-se de lá por todo o tempo e espaço”. A resposta cristã é que há tal lugar, e é em Jesus Cristo nosso Senhor, a Palavra feita carne, sem quem nada do que foi feito se fez, que é a luz e vida da Humanidade; em quem para quem e por meio de quem tudo existe, e em quem um dia toda criação será consumada. Uma palavra do VT poderosa que expressa essa expectativa é shalom, da qual “paz” é uma tradução inadequada. Shalom expressa a mais alta alegria de viver perante Deus, no próprio ambiente físico, em harmonia consigo e seus vizinhos; também descreve o reino do Messias no qual haverá harmonia sem precedentes entre humanos e animais e dentro do reino animal. Jesus Cristo é Aquele que veio, e, por vida, palavras e atos pregou shalom àqueles que estavam longe e perto; ele é chamado de Principe da Pa. Quem recebe paz de seu Príncipe recebe a missão de ser agente e vetor dessa shalom pelo mundo afora. Shalom é tanto a causa de Deus no mundo quanto nosso chamado humano (Wolterstorff, Until justice and peace embrace, p. 72), Pesquette, ramachandra, linguagem da missão, p. 236.

“E, levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus.”

1. É verdade que na Bíblia a pobreza não pode ser reduzida à ausência de recursos materiais e que se pode ter como certo, sem medo de se equivocar, que por trás do uso da palavra “pobre” no NT está frequentemente uma tradição judia antiga, segundo a qual “pobre” era quase sinônimo de “piedoso” ou “justo”. Em Lucas 6.20, no entanto, são contrastados pobres com os ricos, a respeito dos quais Jesus pronuncia um “ai”, porque já tiveram sua alegria, isto é, as comodidades que as riquezas oferecem (6.24). a ninguém ocorreu ideia de que as riquezas dos ricos às quais Jesus se refere sejam riquezas espirituais. Por que deve-se crer que a pobreza seja “espiritual” ou “em espírito”?

2. se cada vez que o termo “pobre” aparece nos evangelhos ele for tomado no sentido de “pobre de espírito”, então a bem aventurança na versão de Mateus não tem conexão com a realidade concreta.
3. a bem-aventurança é pronunciada na perspectiva dos pobres e dirigida aos pobres. Sua espiritualização, ao contrário, geralmente reflete uma maneira de pensar característica de gente cujas necessidades materiais tem sido satisfeitas e que, portanto, não poderia fazer sua bem aventurança dos materialmente pobres.   



N. T. Wright. Surpreendido pela esperança.
No capitulo “Repensando a salvação: o céu, a terra e o Reino de Deus”, Wright aponta que “a compreensão adequada da (surpreendente) esperança futura que nos é concedida em Jesus Cristo conduz diretamente, e de modo também surpreendente, a uma visão da esperança presente, que constitui a base de toda missão cristã. Esperar por um futuro melhor neste mundo para os pobres, os doentes, os solitários e deprimidos, para os escravos, os refugiados, os famintos e desabrigados, para os que são vítimas de maus-tratos, os paranoicos, os oprimidos e desesperados e, de fato, para o mundo inteiro, não é um bônus extra, algo acrescentado posteriormente “ao evangelho”. Trabalhar por essa esperança surpreendente que vem do futuro final de Deus para o presente, não é desviar a atenção da obra “missionária” ou do “evangelismo”; ao contrário, é o próprio cerne, uma parte vital e estimulante do evangelismo. As pessoas prestavam atenção no que Jesus dizia principalmente porque viam o que ele estava fazendo. Elas viam Jesus “salvando” pessoas da doença e da morte, e o ouviam falando sobre “salvação”, a mensagem pela qual ansiavam, e que se estendia da realidade imediata para o futuro definitivo. (...) Todo o ministério de Jesus abrangia o que ele estava fazendo no presente e o que estava prometendo, a longo prazo, para o futuro. E o que estava prometendo para o futuro e fazendo no presente não era salvar almas sem corpo para a eternidade, mas resgatar pessoas da corrupção e da decadência do mundo, para que elas pudessem desfrutar, já no presente, da renovação da criação, que é o propósito de Deus – e para que elas pudessem, assim, se tornar suas companheiras e parceiras nesse projeto mais abrangente.” (p. 207-208).
No capítulo mais longo e mais denso de todas as suas cartas, 1 Co 15.58, Paulo escreveu sobre a ressurreição futura do corpo, descrevendo-a detalhadamente. Ele poderia concluir esse capítulo dizendo: “portanto, uma vez que vocês têm tamanha esperança, sentem-se e relaxem, pois Deus preparou um grande futuro para vocês”. Mas não é isso que ele diz. Ao contrário, ele diz: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.”
O argumento da ressurreição, sustentado por Paulo em toda a carta, é o de que a vida corpórea tem valor justamente porque iremos morrer. Deus nos ressuscitará para uma nova vida. O que fazemos com o corpo no presente tem importância, porque Deus tem um grande futuro esperando por ele.
O que fazemos no presente, permanecerá no futuro de Deus.
Reajustando nossos conceitos sobre missões. De acordo com Wright não podemos cair na desgastada divisão quanto ao sentido de missão no mundo, colocando de um lado aqueles que entendem “evangelismo” como “salvar almas para a eternidade” e de outro aqueles que creem em “missão” como “trabalhar pela justiça, pela paz e pela esperança no mundo presente”. Essa grande divisão não tem nada a ver com Jesus e o Novo Testamento, e tem tudo a ver com a submissão muda de muitos cristãos (tanto “conservadores” como “radicais”) à ideologia platônica do Iluminismo. A partir do momento que entendemos o sentido da ressurreição, podemos e devemos entender também o sentido da missão. Se queremos uma igreja envolvida em missões, precisamos que a obra missionária seja marcada pela esperança.
Neste sentido precisamos repensar nossos conceitos.

Assim, como podemos remodelar nossas igrejas para a missão?

279. O mundo constituído por espaço, tempo e matéria é o lugar onde as pessoas reais vivem; onde se formam as verdadeiras comunidades; onde é preciso tomar decisões difíceis; onde escolas e hospitais dão testemunho do evangelho enquanto a polícia e as prisões testemunhos o “ainda não”. Espaço, tempo e matéria são onde parlamentos, prefeituras, órgãos civis reguladores e todas as outras organizações funcionam em prol da comunidade com um todo.
A igreja renovada pela mensagem da ressurreição de Jesus deve ser uma igreja que age exatamente nesse espaço, tempo e matéria, proclamando-os antecipadamente como um lugar do reino de Deus, do senhorio de Jesus e do poder do Espírito.
Espaço. A igreja que leva a sério o espaço sagrado, não como um lugar retirado do mundo ou um refúgio, mas como um posto avançado, sai direto da adoração no templo para o conselho municipal. Isso não é um trabalho adicional, ou acréscimo à missão da igreja, mas uma tarefa fundamental.
Tempo. Os cristãos que levam a sério o fato de que Jesus é o Senhor do tempo, não separam apenas o domingo como o dia humana e socialmente possível para se celebrar a nova criação de Deus. Porém, mais do que isso, uma igreja assim, lutará para manter um equilíbrio entre adoração e trabalho. A recuperação do tempo como um dom precioso de Deus não é alo para ser acrescentado à missão da igreja, e sim o elemento fundamental.
Material. A igreja deve considerar seriamente o fato de que em Jesus e por meio dele, o Deus criador transformará esse mundo material mais uma vez. Chegará o dia em que a terra se encherá do conhecimento e da glória do senhor, como as águas cobrem o mar, e celebraremos a vinda de Jesus. Devemos lutar aqui agora por justiça. Isso não é algo a ser acrescentado à missão da Igreja, mas o elemento fundamental.
281. “Quando as pessoas veem a igreja adorando a Deus, fazendo a diferença e realizando as mudanças necessárias no mundo em que vivemos, quando fica claro que as pessoas que participam da ceia com Jesus são as que lutam para pôr fim à fome e à carestia, quando as pessoas percebem que aqueles que oram para que o Espírito atue nelas e por meio delas sãos as pessoas que parecem dispor de quantidade extra de amor e de paciência para cuidar daqueles que estão sofrendo e cujas vidas estão feridas e humilhadas – então passa a ser natural falar de Jesus e encorajar outros a adorá-lo. É assim que as pessoas descobrem o que significa pertencer à família de Deus (...). quando a igreja vive de acordo com o padrão do reino de Deus, a palavra de Deus se espalha poderosamente e o Senhor realiza sua obra.”

Concluindo, “ser cidadão do céu” (Fp 3.20) não significa que vamos “ir para o céu quando morrer”. Como vimos, muitos filipenses eram cidadãos romanos, mas Roma não os queria de volta quando se aposentassem. Esse é o argumento que os quatro evangelhos defendem, cada um a seu próprio modo. Jesus ressuscitou; portanto, o novo mundo de Deus já começou. Jesus ressuscitou; portanto, Israel e o mundo foram redimidos. Jesus ressuscitou; portanto, seus seguidores têm uma tarefa a cumprir. E que tarefa é essa? Trazer o estilo de vida do céu para a realidade atual, física e terrena.
“A ressurreição corpórea de Jesus é mais do que uma prova de que Deus realiza milagres ou de que a Bíblia é verdadeira. É mais do que conhecer Jesus em nossa própria experiência. Ela é muito, mas muito mais que a certeza do céu após a morte (Paulo fala de “partir e estar com Cristo”, mas ele enfatiza principalmente a volta em um corpo ressuscitado, para vivermos na nova criação de Deus). A ressurreição de Jesus é o começo do novo projeto de Deus, não de arrebatar pessoas da terra para levá-las ao céu, mas de colonizar a terra com o estilo de vida do céu. É sobre isso que o Pai-Nosso está falando.”


Quando Paulo escreveu seu magnífico capítulo sobre a ressurreição em 1 Coríntios 15, ele não terminou dizendo: “Bem, vamos então celebrar o grandioso futuro que nos aguarda.” Ele concluiu dizendo: “Sede firmes, inabaláveis, e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (v.58). quando a ressurreição final acontecer, como o ponto principal da nova criação de Deus, descobriremos que tudo que foi feito no mundo presente por meio do poder da ressurreição de Jesus será celebrado, incluído, e adequadamente transformado.
Temos que olhar para as palavras de Paulo em Romanos 8, e sobre os capítulos finais do evangelho, ou ainda sobre o que João escreveu em Apocalipse 21 e 22 e perceber que a Páscoa é o começo da nova criação de Deus em um mundo surpreendido, e que isso aponta para a renovação, a redenção e o renascimento de toda a criatura. Todo ato de amor, toda ação feita em Cristo e por meio do Espírito, toda a obra de verdadeira criatividade – todas as vezes que a justiça é feita, a paz é conquistada, famílias são curadas, a tentação é vencida, e a verdadeira liberdade é requerida e conquista; todos esses eventos terrenos tomam luar na longa história de atos que implementam a ressurreição de Jesus e antecipam a nova criação final atuando como sinalizadores de esperança.

Ramachandra; peskette.  Linguagem da missão, p. 113-114. Missão não é primariamente ir, nem fazer algo. Missão é ser. E ser um tipo de povo distinto, uma comunidade contracultural e multinacional entre as nações. É ser, perante um mundo cético, um modelo do que o Deus vivo da Bíblia realmente é. Quer permaneçamos toda a nossa vida nas nossas cidades natais ou viajemos às favelas de Calcutá, somos chamados à missão. Por que missão é colocar nossas vidas na fronteira onde Deus trabalha. Deus trabalha desafiando os falsos deuses da cultura, religião e mercado, procurando justiça para a viúva, o órfão e o estrangeiro, e libertando homens e mulheres, dando-lhes novas identidades que transcendem classe, tribo e nação.”
A visão de João em Ap 21.1-22.5, aponta que a redenção dos povos e culturas do mundo é integralmente cristocêntrica. A adoração pelas nações nesta passagem dirige-se a Deus e ao Cordeiro. A visão de João desafia todas as tendências teológicas, prevalecentes em algumas abordagens do diálogo ecumênico, a marginalizar a pessoa e obra de Jesus Cristo em favor de uma concepção mais “universal” de Deus, que afirma que Ele trabalha igualmente em todas as “tradições religiosas da Humanidade”. 

Zygmunt Bauman, o sociólogo Polonês, em um capítulo intitulado “Sou por acaso o guardião do meu irmão?” no livro “Sociedade Individualizada”, trata da questão da tarefa social. Segundo Bauman, quando Deus perguntou a Caim, onde estava Abel, e Caim, zangado, respondeu que não era guardião de seu irmão, ali começou a imoralidade. Para o autor, é claro que sou guardião do meu irmão, e mais: “e sou e permaneço uma pessoa moral enquanto não pergunto por uma razão especial para sê-lo.” A própria necessidade do outro, assim como a responsabilidade de satisfazer essa necessidade, são as pedras fundamentais da moralidade.
Bauman aponta que a essência de toda moralidade é a responsabilidade que as pessoas assumem pela humanidade dos outros, esta é também a medida do padrão ético de uma sociedade.
E conclui: “argumentos racionais não ajudarão; não existe, sejamos francos, nenhuma “boa razão” pela qual devíamos ser os guardiões de nossos irmãos, pela qual deveríamos nos preocupar, pela qual deveríamos ser morais – e numa sociedade orientada pela utilidade, os pobres e os indolentes, inúteis e sem função, não podem contar com provas racionais de direitos à felicidade. A moralidade tem apenas a ela mesma para se apoiar: é melhor se preocupar do que lavar as próprias mãos, melhor ser solidário com a infelicidade do outro do que ser indiferente, é muito melhor ser moral, mesmo que isso não faça as pessoas mais ricas nem as companhias mais lucrativas.”

O mesmo Zygmunt BAuman, descrevendo a “ética pós-moderna”, utiliza a metáfora do vagabundo e do turista para expressa a condição pós-moderna, ambos assinalando estilo de vidas despojados. O vagabundo não tem objetivos, planos nem projetos; não sabe quanto tempo ficará onde está. O turista é semelhante ao vagabundo, mas pagou por seu desapego. O turista trafega por território de outros e não se compromete com o território ou seu povo. O mundo é para se provar esteticamente, como puro prazer.
Entretanto, como argumentam Pesquette e Ramachandra, “os cristãos, diferentemente de vagabundos e turistas, comprometem-se com os lugares onde vivem. Porque este mundo, apesar de todo o seu mal e corrupção, tem futuro. E o futuro de Deus abarca e conforma as ações humanas do presente. Nossa esperança não é que seremos  transportados a outro mundo quando morrermos, mas que este mundo presente será transformado em tudo o que Deus queria que fosse. O céu, a realidade última do reino soberano de Deus, virá à Terra. E essa visão nos foi dada não para encorajar especulação e curiosidade ociosas sobre o futuro, mas para nos motivar a viver no presente de modo a dar às pessoas à nossa volta um vislumbre do futuro de Deus. A igreja é a comunidade missionária, escolhida dentre todas as nações, que vive o futuro de Deus no presente.” (A linguagem da missão, p. 252).    

A Missão, caríssimos, é cristocêntrica, tem que ter a cruz de Cristo no cerne de nossas ações: é uma mensagem redentiva, para o aqui e também para o depois, sabendo que o já ainda não o é.




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