quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Adam Roberts - the History of Science fiction

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Este é um livro muito bem escrito, que talvez pelo título tenha-se a impressão de algo seco e cansativo, com datas e muitas informações. Entretanto, Adam Roberts conseguiu escrever um livro informativo e ao mesmo tempo muito agradável de se ler. Sua estratégia de tratar primeiramente as obras através do âmbito temático, mas sem abandonar o cronológico, me parece bem sucedido.
Adam Roberts não concorda com o que normalmente é demarcado como o início da Ficção cientifica. Para ele as raízes do que ele chama de voyages extraordinaires interplanetárias já tem início na Grécia antiga, mas seu pleno desenvolvimento se dá a partir do século XVI. Ele identifica quatro formas de ficção cientifica:
1)      Histórias sobre viagens interplanetárias;
2)      Viagens através do tempo e viagens através do espaço;
3)      Histórias sobre tecnologia;
4)      Utopias.
Estes estilos estão presentes desde a Grécia, mas existe um interlúdio de obras até o século XVI, e é aqui que a tese inovadora de Roberts se encaixa (pode-se concordar ou não, mas é um belo argumento, reforçado por estudos de caso de obras). Para ele, a re-emergência da ficção cientifica é correspondente com a Reforma Protestante.
Durante o final do século XVI e início do século XVII, o equilíbrio da balança do questionamento científico mudou para os países protestantes, onde o tipo de especulação que algumas vezes poderia parecer contrária à revelação bíblica poderia ser encaminha com relativa liberdade.
A partir da revolução copernicana, um problema central surgiu nas especulações desse período: se existirem vários mundos, com muitas populações de seres vivendo neles, então isto tenderia a negar a singularidade da crucificação de Cristo e desvalorizar o cristianismo.
O ponto revolucionário do cosmos copernicano é reconfigurar o foco para além da terra e da humanidade: ou Cristo morreu apenas uma vez e Deus ignorou o resto de sua vasta criação, ou ele morreu em cada mundo possível. Um problema que acompanhou não só cristãos, como pode ser vistos na obra "Hyperion" de Dan Simmons. C. S. Lewis também enfrentou esse problema em sua trilogia Cósmica.
E aqui chegamos ao âmago da tese de Adam Roberts: a ficção científica seria determinada pela dialética entre “protestante” e “católico” (ou, em termos menos sectários, entre “deísmo” e “panteísmo mágico”), que surge no século XVII.
Vejam, trata-se de diferenças entre catolicismo e protestantismo que o autor ressalta como sendo importantes para o desenvolvimento da ficção cientifica e não exatamente de diferenças teológicas. Trata-se mais do enfoque. 
A perspectiva católica traz imbuída em si uma perspectiva mais “mágica”; já o movimento protestante foi para muitos visto como um impulso por retirar a “mágica da religião”. As imaginações protestantes cada vez mais mudaram a função instrumental da mágica com instrumentos tecnológicos, e produziu a ficção científica.
Mas vejam bem, essas perspectivas atuais em livros de ficção cientifica “católicos” e “protestantes” não significa que necessariamente são escritos por religiosos dessas vertentes; trata-se muito mais de uma tendência em colocar elementos de “mágica” e elementos “tecnológicos” em maior ou menor grau; isso que serviria para definir em que posição atuais escritos se encaixariam.
Por exemplo, "Um cântico para Leibowitz" de Walter M. Miller, apesar de conter elementos tecnológicos, a história se desenrola tendo como pano de fundo uma série de elementos mágicos: o personagem Leibowitz é um hermita em um deserto pós-nuclear, e que é imortal, entre outras coisas. Nestas histórias “católicas” o elemento mágico não é meramente jogado no livro como algo bizarro, mas sim funciona como um endosso do sobrenatural, da presença de Deus, em um mundo que foi destruído por uma bomba atômica fruto de uma sociedade puramente secular e racional.
De outro lado, o autor cita como exemplo a tetralogia de Gene Wolf “Long Sun”, que traz como herói um humilde sacerdote, mas no qual a religião não tem um caráter “católico”: a trajetória da série apresenta as características de um mundo que aparece inicialmente como sobrenatural, mas que na verdade não é nada mais do que tecnológico, um enredo que podemos chamar de “protestante”.
Adam Roberts trabalha analisando a ficção científica primeiramente através da literatura, mas também trabalha com filmes, HQs, TV, e consegue amarrar muito bem as informação e suas conclusões, sem ser maçante.
Enfim, uma grata surpresa e altamente recomendado para fãs do estilo.



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